sexta-feira, 14 de novembro de 2008

HERMANN HESSE

Um dia coração, descansarás:
um dia morrerás a derradeira morte,
e te encaminharás para o silêncio
daquele sono profundo e sem sonhos.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SONHOS

Nas poucas vezes que fecho os meus olhos e me permito sonhar, é contigo que sonho: vejo-te pequena gazela arisca e delicada, que se entrega a mim e, na nossa volúpia de amantes, percorremos juntos grandes distâncias campos de sonhos, pradarias sem fim nadamos em mares de azul profundo voamos juntos por entre nuvens altas, desenhando com elas as formas do nosso desejo, sonho-te minha Menina e sonhando-te assim, branca e pura, elevo-te com as minhas mãos e atravessamos paisagens nevadas ou planícies desérticas, lugares distantes numa eterna aventura. Para mim, os sonhos são muito belos, pois neles me encontro junto a ti. Sonhos. São o que me restaram, são os encantos da minha vida, que se restringem a esses pequenos intervalos oníricos, onde passo todo momento tentando não acordar pois estou de mãos entrelaçadas contigo!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

HERMANN HESSE

O AMANTE
"Agora está teu amigo na calma noite acordado,
ainda morno de ti, ainda envolto em teu aroma,
em teu olhar e em teu cabelo e no teu beijo.
De ti, amada, eleva-se o meu sonho
alto como do mar o monte e o precipício,
salpicado em ressaca e esvaído na espuma,
e é sol, bicho, raiz,
só por estar contigo,
por estar junto a ti.
Saturno e Lua gravitam longe, e eu não vejo:
só vejo a pálida flor do teu rosto,
e em silêncio me rio e embriagado choro,
nem alegria nem tristeza existem mais
só tu, só tu e eu, imersos
no imenso Todo, no profundo mar
e dentro nos perdemos,
e aí morremos e aí renascemos."

HERMANN HESSE

EM ALGUM LUGAR "No deserto da vida eu erro e ardo a gemer sob o peso do meu fardo, mas em algum lugar quase esquecidos sei de frescos jardins em sombra e em flor. Em algum lugar, nos confins do sonho, sei que um abrigo vela onde a alma volta a ter pátria e estão à espera o sono, a noite e as estrelas."

Mãos

Acostumei as minhas mãos a brincarem com os teus longos cabelos negros. Agora que partiste, elas se encontram perdidas, mal acostumadas que foram. Não conseguem mais sequer fazer um pequeno poema. Elas sentem falta de ti. Mas, distante, noutro lado do oceano Não me escutas, nem poderias fazê-lo! Solitárias, as minhas mãos sentem falta dos teus cabelos longos e negros. E o meu coração sente a falta do teu.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

FERNANDO PESSOA

"No entardecer da terra O sopro do longo outono Amareleceu o chão. Um vago vento erra, Como um sonho mau num sono, Na lívida solidão. Soergue as folhas, e pousa As folhas, e volve, e revolve, E esvai-se inda outra vez. Mas a folha não repousa, e o vento lívido volve E expira na lividez. Eu já não sou quem era; O que sonhei, morri-o; E até do que hoje sou Amanhã direi, Quem dera Volver a sê-lo!... Mais frio O vento vago voltou!"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tristeza

Tristeza
Na biblioteca de Jorge Luís borges, paira agora, uma tristeza.
Ela, delicada e gentil, dança Pavane, de Fauré, ensaia passos, de uma dança imaginária, que ninguém vê.
Ele, solilóquio canta uma canção que ninguém escuta.
A poeira da eternidade recai sobre ambos. Encobre a amizade que agoniza, solitária e incompreendida, por aqueles que têm a cobiça e a inveja.
Lá fora, porém, há o perfume de uma pequena flor.
Dá sinais de uma saída, uma chance de vida para ambos.
Mas os filisteus não dão trégua. Ambos fraquejam. A luta é muito intensa.
Ele pede ao Nosso Senhor que ponha um fim nessa agonia.
E dá adeus a tudo isso.
A pequena flor com o seu perfume agoniza.
Domage.
Ela continua ensaiando a sua dança,
seus gestos lentos hipnotizam
espectadores imaginários.
Cego pela dor, pela saudade,
ele parte.
Para onde, ele não sabe, exatamente.
Mas agora,
isso não mais lhe importa.
Nada mais lhe importa.