sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

PIERRE DE RONSARD (1524/1585)

Sonetos para Helena - XLIII Quando fores bem velha, à noite, à luz da vela, Sentada ao pédo fogo, a fiar, Admirada dirás, meus versos a cantar: "Ronsard me celebrava ao tempo em que era bela." E entre as servas não hás de ter, então, aquela, Cansada do trabalho e meio a dormitar, Que o meu nome ao ouvir não desperte, a abençoar Teu nome que em meu verso imortal se revela. Sob a terra estarei, fantasma silencioso, E entre as sombras do mirto encontrarei repouso; À lareira será uma velha encolhida, Meu amor lastimando, e a tua altivez vã. Vive, se crês em mim, não penses no amanhã. E colhe, desde agora, as rosas desta vida.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

MADAME DE GIRARDIN (1804/1855)

A Noite Eis a hora em que extingue a vela Que o dia esconde os meus pernoites: Meu coração à prima estrela Se exibe como a flor das noites. Ó noite de langor profundo, Sabes juntar, precisa, a fé Aos julgamentos onde o mundo Em mim produz cegueira até. Conheces bem o meu sonhar, minha coragem e alegria; Sabes que o meu filosofar É desespero sem porfia. Por ti me mudo sem reclamo; Não mais mentiras vis, plurais; Por ti eu vivo, eu sofro, eu amo, Minha tristeza não ri mais. Não mais coroa rosa e branca; A face pálida e sem vez, A minha fronte se desanca Deixa cair minha altivez. As minhas lágrimas contidas Desfilam lentas nos meus dedos, Tal fosse fontes não sabidas Em ramos mortos de arvoredos. Depois de um dia de tormento, Um dia loudo de vaidade, É bom langui sem fingimento É bom sofrer em liberdade. Sim, é amarga a alegria De se jogar por um momento Como uma presa que se cria Por sobre as serras do tormento; De esvaziar todos os prantos Com um soluço derradeiro. De ter levado sem encantos Ao desespero o canto inteiro. Então a dor já bem servida Deixa um repouso vago e doce; Não se pertence mais à vida, Vosso ideal, vão, dissipou-se. Nada-se e plana-se no espaço, Reconduzido pela tarde; Já não é mais sombra e passo, Uma alma que não se retarde. O clã do voo que se encerra Vos emancipa como a morte; Não há mais nome sobre a terra, Pode-se em sonho ter sem corte. De um mundo mau não resta um véu, Nem elo e nem - lei e nem dor; A alma, papílio em pleno céu, Sem crime escolhe a sua flor, Sob o domínio da incerteza nâonos sentimos oprimidos Assim se volta à natureza Como o país de amores idos. A minha noite luz e ensombra, Encontro tudo na beldade Reúnes tu estrela e sombra, Todo mistério e verdade. A brisa já gelou o alento Da aurora, clama a ardentia; Adeus, sincero pensamento; Há que mentir... surgiu o dia.

THÉOPHILE GAUTIER (1811/18773)

Amor Do Ano Passado (Fragmentos) Um ano já passou em que toda a folia Me fez apaixonado - Adeus, para a poesia! Eu já não tinha o tempo em que tudo se joga Para metrificar: - e dar-lhe o meu desvelo, Enfeitá-la, admirar o seu doido cabelo, Um mar negro onde a minha mão sempre se afoga; Ouvi-la respirar, vê-la sorrir, viver, Quando ela debochar, me embriagar e ler Nos seus olhos de desejo: a fronte adormecida, Seus sonhos espreitar, beber em sua boca Seu hálito num beijo, eu fiz tal coisa louca Em quatro noites desta vida."

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

JOACHIM DU BELLAY (1522/1560)

Arrependimentos
(Fragmentos)
Se a vida não é mais do que uma jornada
Para o eterno, que o ano faz a volta,
Os nossos dias caça, e muda à volta,
É perecível toda a coisa nada.
Que sonhas tu, minha alma aprisionada?
Por que te agrada o dia que não volta,
Se, para voar claro, é vã a escolta,
Tu tens no dorso uma asa bem plantada?
Lá, está todo o bem que o ser deseja,
Lá, está o repouso tal que o mundo almeja,
Lá, está o amor, lá, prazer imploro.
Lá, minha alma no céu está guiada
E poderás vê-la idealizada
Da beleza, no mundo, que eu adoro.

CHARLES BAUDELAIRE (1821/1867)

Um hemisfério em uma cabeleira
Teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros, contêm gendes mares cujos ventos me transportam para climas encantadores, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelos frutos, pelas folhas e pela pele humana.
No oceanos dos teus cabelos, entrevejo um porto formigante de cantos melancólicos, de homens vigorosos de todas as nações e de navios de todas as formas recortando suas arquiteturas finas e complicadas dentro de um céu imenso em que se pavoneia o eterno calor.

CHARLES BAUDELAIRE (1821/1867)

A Dupla Câmara
(Fragmentos)
A alma toma um banho de preguiça, aromatizada pelo arrependimento e pelo desejo. É algo de crepuscular, de azulado e de róseo; um sonho de volúpia ao longo de um eclipse.
Um odor infinitesimal da mais esquisita escolha, a que se mistura ligeira umidade, nada nesta atmosfera, onde o espírito de inércia é acalentado por sensações de estufa quente.
A musselina se impõe abundantemente ante as janelas e ante o leito; ela se derrama como cascatas de neve. Neste leito está deitadas. É a imperadora dos sonhos. Como chegou até aqui? Quem a trouxe? Que mágico poder a instalou neste trono onírico e de volúpia? Isso que importa? Aí está ela. Eu a reconheço.
Eis então esses olhos cuja flama atravessa o crepúsculo; estas sutis e terríveis meninas, cuja espantosa malícia reconheço. Elas atraem, subjugam, devoram o olhar do imprudente que as contempla. Estudei-as muitas vezes essas estrelas negras que comandam a curiosidade e edmiração. . i is s flamas

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS... Hão de chorar por elas os cinamomos, Murchando as flores ao tomber do dia. Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquelas que os colhia. As estrelas dirão: - "Ai! nada somos, Pois ela se morreu, silente e fria..." E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos... E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim - "Por que não vieram juntos?"

ALFRED DE MUSSET (1810/1857)

TRISTESSE (fragments) J'ai perdu ma force et ma vie, Et mes amis et ma gaité; J'ai perdu jusqu'à la fierté Qui faisait croire à mon génie. TRISTEZA (fragmentos) Perdi a força e minha vida, Os meus amigos e a alegria; Perdi até a parceria Que com meu gênio é dividida.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

FEDERICO GARCIA LORCA

Eu a vi passar por meus jardins quando a aminha alma era luz da luz. Eu a vi mirar o berço onde a Luxúria morde as crinas. Eu a vi rezar na penumbra no altar dos sacros martírios, azul e pálida como os lírio, com a luz de meu peito que a ilumina. Nunca mais a vereis, pois minha alma já entrou no reino do prazer sombrio, jardim sem lua, sem paixão, sem flores. Murchou a flor; e acalmou-se minha ilusão. Já longínquo o vozerio, o coração penetrou nas dores.

EMILY DICKINSON

Para se ter uma campina é preciso um trevo e uma abelha. Um trevo, uma abelha e fantasia. Mas, em se faltando abelhas, basta a fantasia.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

LORD BYRON, SEMPRE.

ESTÂNCIAS PARA A MÚSICA Alegria não há que o mundo dê, como a que tira. quando, do pensamento de antes, a paixão expira Na triste decadência do sentir; Não é na jovem face apenas o rubor Que esmaia rápido, porém do pensamento a flor Vai-se ante do que a própria juventude possa ir. alguns cuja bóia no naufrágio da ventura Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados; O imã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura Praia que nunca atingirão os panos lacerados. Então, o frio mortal da alma, como a noite desce; Não sente a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar; Toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar; Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece. Dos lábios flutua o espírito, e a alegria o peito invada, Na meia-noite já sem esperança de repouso: É como a hera em torno de uma torre já arruinada, Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso. Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas, Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto; Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas: No ermo da vida assim seria para mim o pranto.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Na solidão o meu desespero inconsolado explode. Remexendo nos meus arquivos encontrei os recadinhos que tu me enviaste. Deus! como tenho saudade tua! Quantas palavras amorosas chego a pensar que, um dia chegaste realmente a me amar. Hoje, agonizo tal como as raízes secas do poema de Eliot. Acredito que a causa dessa terrível agonia é ter amado, quanto amar se pode sem ter amado quanto amar devia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

"Como se moço e não bem velho eu fosse Uma nova ilusão veio animar-me: Na minh'alma floriu um novo carme, O meu ser para o céu alcandorou-se. Ouvi gritos em mim como um alarme, E o meu olhar, outrora suave e doce, Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se Todo em raios que vinham desolar-me. Vi-me no cimo eterno da montanha, Tentando unir ao peito a luz dos círios Que brilhavam na paz da noite estranha. Acordei do áureo sonho em sobressalto: Do céu tombei ao caos dos meus martírios, Sem saber para que subi tão alto..." Qualquer semelhança é mera coincidência...

NELSON RODRIGUES

"Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos." C R U E L !
"E aos astros de tal modo o Poeta ascende em calma, Que o céu fica menor do que o azul da sua alma, E nem cabe no céu a luz do seu olhar..." A.G.