segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A ARGENTINA ESTÁ QUEBRANDO E O BRASIL SEGUE ATRÁS

Problemas na Argentina

FSP

No passado recente, em especial no período de 2003 a 2008, a política econômica do governo argentino apresentou resultados mais do que satisfatórios. O país cresceu em média 8% ao ano, a taxa de juros manteve-se relativamente baixa, as contas públicas registraram pequeno superavit nominal, e o câmbio, favorável às exportações, estimulou a formação de saldos nas contas externas. Ocorre que, abaixo da superfície, problemas se acumulavam. E nos últimos três anos eles começaram a ficar patentes, a começar pelo forte aumento da inflação. Segundo estimativas do setor privado, o índice estaria hoje em torno de 25% ao ano, embora as desacreditadas estatísticas oficiais apontem para menos de 10%. Nesse quadro, o comércio externo do país tem sofrido perdas, como evidencia o declínio do saldo comercial, de US$ 12 bilhões, em 2010, para cerca de US$ 8 bilhões, neste ano apesar do peso desvalorizado, do aumento dos preços agrícolas e do aquecimento do mercado brasileiro, maior comprador de manufaturados da nação vizinha. A conclusão é simples: o descontrole inflacionário diminui a competitividade da economia argentina e exige, como compensação, novas desvalorizações cambiais. Com o aperto nas contas públicas e na frente externa, a margem de manobra evaporou. Os argentinos, percebendo o que se passa, começam, como se tornou tradição no país, a buscar refúgio no dólar. Estimativas indicam que nos últimos 12 meses a fuga de capitais chegou a US$ 25 bilhões. É neste contexto que devem ser compreendidas as decisões recentes do governo: as empresas de mineração e petróleo foram obrigadas a nacionalizar suas receitas externas, as seguradoras terão de vender seus ativos no exterior, e os cidadãos argentinos precisam, agora, apresentar justificativas Ðque podem ser recusadas pela Receita para comprar moeda estrangeira. Essas novidades deverão, ainda, ser acompanhadas de cortes de despesas, como a redução dos subsídios para serviços públicos, que consomem 4% do PIB. É possível, ainda, que o governo promova negociações com sindicatos e empresas para conter preços e salários. A folgada reeleição da presidente Cristina Kirchner, com 54% dos votos, confere à Casa Rosada o necessário respaldo para agir. Resta saber se a mandatária insistirá na política populista e na adoção de medidas paliativas ou se irá à raiz dos problemas para retomar o controle da economia.



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