sexta-feira, 4 de novembro de 2011

AUGUSTO NUNES

O jeca metido a novo rico aplica o conto da saúde para financiar a gastança federal

“Eu acho que não está longe da gente atingir a perfeição no tratamento de saúde deste país”, disse o presidente Lula em 19 de abril de 2006, ao inaugurar com outro comício o serviço de emergência de um hospital em Porto Alegre. Menos de quatro anos bastaram para que o sistema ficasse tão perfeito que merecia ser exportado para os Estados Unidos. “Na próxima vez que eu estiver com ele, vou dizer: Obama, faça um SUS”, gabou-se em novembro de 2009 o fundador do Brasil Maravilha.

Na discurseira para os 2.500 participantes do Congresso Brasileiro de Saúde Pública reunidos em Olinda, Lula explicou que o Sistema Único de Saúde resolveria boa parte dos problemas enfrentados por Barack Obama. “Ah, se tivesse um SUS nos Estados Unidos, como seria bom para os 50 milhões de pobres que não têm direito a nada”, disse o presidente à plateia estupefata com o antimilagre da multiplicação dos miseráveis em inglês. Cinquenta milhões. Nem mais, nem menos.

No país que Lula inventou sobra dinheiro, recitou Dilma Rousseff do começo ao fim da campanha eleitoral. A pobreza foi promovida a classe média, há crédito até para bebês de colo, falta espaço nos cofres do Banco Central para o estoque de dólares e o Brasil, que devia a meio mundo, virou credor internacional. Depois de socorrer o FMI com um empréstimo de bom tamanho, e de perdoar as dívidas de ditaduras africanas amigas, o governo federal segue financiando a construção de hidrelétricas, estradas e metrôs nos países da vizinhança, impede a falência de Cuba e reconstroi o Haiti. Fora o resto.

Se o sistema de saúde é de matar de inveja presidente americano, se a potência emergente sul-americano nada em dinheiro, como entender a ideia de ressuscitar a CPMF? Os motivos são dois. Primeiro: Lula faz questão de vingar-se dos senadores que, ao extinguirem o imposto do cheque, enterraram o sonho do terceiro mandato. Segundo: o governo planeja, como sempre, desviar do destino original os R$ 40 bilhões a mais para reduzir o rombo aberto pela gastança de jeca metido a novo rico.

Em vez de enxugar o mamute estatal, estancar a sangria da corrupção institucionalizada, desativar ministérios inúteis ─ em vez de criar juízo, enfim, o bando de perdulários patológicos tenta aplicar o conto da saúde para avançar de novo sobre o bolso de quem trabalha. Os governadores e parlamentares eleitos pelo PSDB assumiram publicamente o compromisso de impedir a criação de mais impostos e lutar pela imediata diminuição da carga tributária colossal. Já esqueceram a promessa.

Quem não combater abertamente a exumação da CPMF merece ser enquadrado por estelionato político e convidado a transferir-se para a base alugada pelos milhões de brasileiros exaustos de partidos que não querem ou não sabem opor-se ao governo federal. Depois de 31 de outubro, já não há lugar para oposicionistas de araque.

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