domingo, 20 de novembro de 2011

CRESCE O CONSUMO DE COCAÍNA NA EUROPA

Crise impulsiona consumo da cocaína na Europa

Antonio Jiménez Barca - El Pais

Espanha é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, perde apenas para a Inglaterra

A cocaína chegou ao limite na Europa. O informe anual do Observatório Europeu das Drogas e Toxicomanias, como sede em Lisboa, mostra que a droga, da qual a Espanha é o segundo maior consumidor mundial (usada por 2,7%) só atrás da Inglaterra, retrocedeu no último ano, sobretudo numa faixa etária determinante, entre os 14 e 34 anos. "A bolha explodiu", disse ilustrativamente o diretor do órgão da UE, Wolfgang Gotz.
As razões desta queda ainda são conjecturas, mas Julián Vicente, especialista em toxicomanias com mais de 16 anos de experiência e um dos responsáveis do informe, aponta duas: a crise econômica e as consequências médicas de uma droga que até então não era criticada por uma parte da sociedade por considerá-la quase inócua. Vicente é claro em relação ao primeiro fator: "a cocaína, que frequentemente é misturada com o álcool, é consumida por muita gente como o álcool, isto é, aos fins de semana, como estimulante quando saem à noite... Agora, num momento em que o consumo de tantas coisas diminuiu por causa da crise, o da cocaína também diminui."
O estudo aponta que o preço de um grama de cocaína está entre 50 e 80 euros na Europa. No Reino Unido, encontra-se a cocaína mais barata (45 euros) e em Luxemburgo a mais cara (110 euros).
O segundo fator é mais difícil de detectar, segundo Vicente: "Em alguns países, entre os quais a Espanha, a cocaína experimentou um grande aumento nos anos 90 e depois: há 10 ou 15, a cocaína era vista como uma droga de pessoas de bem, que estava na última moda. Agora começam a ver também os seus problemas". Na Espanha, nos últimos anos, segundo diz o especialista, aumentaram as visitas de cocainômanos a hospitais por conta de ataques de ansiedade, taquicardias ou paranóia. Assim, a boa fama da cocaína começa a decair. Na Europa, notificam-se anualmente cerca de mil mortes anuais por consumo da droga.
Segundo o estudo, que trabalha com dados de 2009, na Espanha, a cada 100 pessoas entre 14 a 34 anos, pouco mais de quatro admitiam ter usado cocaína pelo menos uma vez por ano. Um ano antes, esta porcentagem era mais de cinco. Os dados da Pesquisa de Consumo de Drogas espanhola mostram que o consumo experimental aumenta – aqueles que provam a droga -, mas, em contrapartida, cai o número de pessoas que a usaram no último ano (2,7%) e no último mês (1,2%).
No Reino Unido, por sua vez, esta mesma porcentagem caiu de seis pontos para cinco. No país, a queda do consumo de cocaína coincidiu com o crescimento de outras substâncias, algumas legais e outras não, provenientes da mefedrona, também estimulantes, com um efeito euforizante, porém mais baratas e, aparentemente, menos prejudiciais.
De qualquer forma, os especialistas advertem que um dos fatores, o econômico, é conjuntural e que, portanto, se a Europa sair da crise, o consumo de cocaína poderá voltar a subir. Este impacto poderia explicar por que, na Espanha, há um deslocamento entre aqueles que provam a substância com idade mais avançada, quando ganham mais.
O informe se ocupa de outras drogas e alerta sobre a capacidade de metamorfose de certas substâncias sintéticas. A cada ano, aparecem no mercado 40 produtos novos, quase todos derivados das anfetaminas. Alguns são legais, outros não, outros não há quem comprove, dado seu rápido surgimento e sua meteórica e sinuosa distribuição graças à internet. São processados em laboratórios clandestinos da China ou da Índia, transformam-se em pílulas na Europa e são vendidos na internet. As autoridades sanitárias de cada país brincam de gato e rato há anos com os fabricantes dessas novas substâncias. "O verdadeiro perigo desta situação é que entre toda essa enxurrada de substâncias novas, pode haver uma verdadeiramente prejudicial ou verdadeiramente viciante", alerta Vicente.
O informe também trata da maconha, a droga mais consumida na Europa (78 milhões de europeus reconheceram tê-la consumido em algum momento de sua vida). Também neste caso, o estudo anuncia “uma estabilização ou diminuição” do consumo da droga entre pessoas de 14 a 34 anos. Motivos? O informe aponta uma pesquisa na qual 67% dos jovens reconheceram que o consumo da substância constitui “um risco elevado para a saúde”.
O estudo recorda que embora o consumo da droga tenha caído nos últimos anos, ainda há 1,8 milhões de viciados em heroína. Mais de 8 mil pessoas morrem de overdose por ano na Europa. "Essas pessoas são as que sofrem mais problemas. É um grupo que na maioria tem entre 30 e 50 anos, e onde existe a maior parte de suicídios, morte por Aids ou por complicações médicas", explica Vicente. "Em tempos como estes de cortes de serviços sociais, não podemos nos esquecer deles."

Tradução: Eloise De Vylder

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