sábado, 19 de novembro de 2011

ELEIÇÕES ESPANHOLAS SOB O EFEITO DA CRISE

Espanha vota em meio a crise e deve dar amplo poder aos conservadores

Pesquisas apontam vitória do Partido Popular, de Mariano Rajoy, que voltaria ao poder após oito anos

Jamil Chade, enviado especial - OESP
MADRI - A Espanha encerrou na sexta-feira, 18, sua campanha eleitoral a caminho de ver as três esferas de poder quase totalmente na mão de um só partido, algo inédito desde a morte do general Francisco Franco, em 1975. As pesquisas apontam uma vitória de Mariano Rajoy, líder do Partido Popular (PP), que terá a maioria absoluta no Parlamento. Em maio, o partido conquistou 11 dos 13 governos estaduais em disputa e 91% dos municípios.
Amanhã, o país votará sob o peso da crise econômica. Com 5 milhões de desempregados e metade dos jovens sem trabalho, todos esperam que o eleitor espanhol puna o Partido Socialista (PSOE), do atual premiê, José Luis Rodríguez Zapatero, no poder há oito anos.
Se confirmadas as previsões, o PP terá sobre o PSOE uma diferença de cerca de 18 pontos porcentuais, a maior desde a redemocratização. Para analistas e empresários, no entanto, no curto prazo, a Espanha será governada de Bruxelas e Berlim.
O primeiro sinal da derrota de Zapatero veio em maio, quando o PP venceu a maioria das eleições regionais, incluindo bastiões históricos do PSOE, mostrando que grande parte da população culpa os socialistas pela péssima gestão da crise.
De acordo com pesquisas, o PP deve obter cerca de 198 das 350 cadeiras do Parlamento. Os socialistas ficariam com, no máximo, 115. Ontem, o candidato do PSOE Alfredo Rubalcaba disse que o excesso de poder dos conservadores não favorece a democracia. "Preocupa-me o fato de um partido ter controle absoluto sobre todos os poderes na Espanha", afirmou. No entanto, para analistas, a maioria absoluta não significa um cheque em branco para o PP, pelo menos não no aspecto econômico. Em Madri, a percepção é de que quem governará será a União Europeia, a partir de Bruxelas, sob as ordens da chanceler alemã Angela Merkel, que exige reformas e um drástico corte de gastos da Espanha.
"Todos sabem o que vai ocorrer. Não há outra solução a não ser cumprir o que nos é exigido de fora", disse ao Estado Jesus González, diretor de desenvolvimento de mercado da Bolsa de Madri. "Não há segredo. Há exigências e elas terão de ser atendidas. Caso contrário, receberemos um cartão vermelho e nos tornaremos uma Grécia."
González acredita que a única margem de manobra de Rajoy será amenizar o tamanho das medidas de austeridade. "O que será debatido é até que ponto apertaremos o cinto e se isso asfixiará a economia", disse. Para ele, a ampla maioria do PP dará ao governo força para tomar decisões difíceis. "O apoio acabará rápido, mas, pelo menos no início, permitirá que a reforma ocorra."
Nas ruas, o sentimento é diferente. Em Barcelona, médicos entraram em greve contra os cortes no setor de saúde, que já afetam o atendimento. Universidades de todo o país também pararam nos últimos dias, assim como os servidores públicos no sul da Espanha.
Os sindicatos temem que os cortes de salários, aposentadorias e benefícios sociais causem uma explosão social. "Estamos preocupados. Um a cada quatro desempregados da Europa está na Espanha", afirmou Julio Salazar, secretário-geral da USO, terceiro maior sindicato espanhol. "Falar em cortes é eufemismo. Estamos entrando em um ciclo de estagnação e empobrecimento. As ruas não aceitarão isso sem luta."

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