quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ENSINO SUPERIOR

Muito a aprender

FSP - EDITORIAL
Número de universitários aumenta, mas patamar ainda é baixo se comparado ao de outros países, e a qualidade está longe de ser satisfatória
Os dados do Censo da Educação Superior de 2010, divulgados nesta semana, confirmam tendências e reforçam preocupações.
O número de alunos em algum curso de graduação subiu 7% em relação a 2009. O total já soma 6,4 milhões de estudantes. Em uma década, a alta foi de 110% -avanço em todos os sentidos notável. O quadro parece menos alvissareiro quando se considera o atraso que o Brasil precisa recuperar.
Nossa taxa de escolarização bruta no ensino superior (a relação entre o número de alunos matriculados e a população de 18 a 24 anos) é de 36% (dados de 2009), praticamente a mesma do Paraguai (37%) e bem abaixo dos 59% do Chile ou 69% da Argentina. Quando a comparação é com os países desenvolvidos, o fosso se aprofunda. Na Espanha, são 73%, nos EUA, 89% e, na Finlândia, 92%.
A situação se torna ainda mais periclitante quando se levam em consideração não apenas parâmetros quantitativos mas também qualitativos. O grosso das matrículas (73%) é em instituições privadas, que, na média, têm uma avaliação bem pior do que as públicas.
Também chama a atenção o fato de que boa parte do crescimento dos últimos anos foi puxado pelo ensino a distância, no qual a questão da qualidade costuma ser ainda mais precária. O próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que sua pasta tem freado a expansão dessa modalidade.
A eficiência do sistema tampouco é das melhores -só 46% completam a graduação nos quatro anos esperados. Esse fenômeno é explicado pela repetência e pela evasão.
Haddad, porém, sustenta que parte dessa cifra se deve aos alunos que trocam de curso no meio da graduação. Segundo o ministro, no ProUni (sistema de bolsas federais em instituições privadas), metade dos alunos que se supunha ter desistido na verdade mudou de curso. É uma explicação verossímil, mas que não depõe a favor da inteligência do sistema.
O Brasil precisa seguir no rumo da expansão da educação superior e, ao mesmo tempo, melhorar substancialmente sua qualidade, o que representa um desafio formidável. É muito difícil obter bons resultados sem avançar antes nos ensinos fundamental e médio.
Alunos com deficiências na base têm pouca ou nenhuma chance de converter-se em bons profissionais. Faculdades não fazem milagres. Apesar das dificuldades, não há alternativa que não transformar a educação na grande prioridade nacional. Fica cada vez mais claro que a verdadeira fonte de riqueza de um país é a sua capacidade de inovar. Fazê-lo em alto nível exige boa formação.

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