quarta-feira, 23 de novembro de 2011

IMPASSE NOS EUA LANÇA NOVAS DÚVIDAS SOBRE O CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL

Mais um problema

FSP - Editorial 

Desacordo sobre cortes de despesas nos EUA adia decisão para depois do pleito de 2012 e cria novo fator de incerteza no cenário global
O "supercomitê" para redução de gastos do Congresso norte-americano encerrou seu período de deliberações sem chegar a um entendimento para diminuir a dívida pública do país.
Formado por democratas e republicanos, em decorrência do acordo que elevou o limite de endividamento dos Estados Unidos, em agosto, o comitê tinha como objetivo identificar fontes de receita e de diminuição de despesas no valor de pelo menos US$ 1,2 trilhão, entre 2013 e 2021.
Caso a comissão não chegasse a bom termo, como não chegou, estava previsto um "gatilho" para reduzir anualmente em US$ 110 bilhões, ao longo do mesmo período, as despesas públicas, das sociais às militares. Para o Pentágono, por exemplo, a redução equivaleria a 10% do orçamento já em 2013 -e podem-se esperar pressões para que o Congresso a revogue.
A reação geral foi de decepção, por duas razões principais. A primeira, a possibilidade de novo rebaixamento da nota de crédito dos EUA, já cortada para AA+ pela agência S&P, mas ainda mantida em AAA, nível máximo, pela Moody´s.
Essa ameaça, ao menos no curto prazo, foi descartada pelas próprias agências, que veem motivo para otimismo no "gatilho" que impõe cortes automáticos -desde que os congressistas, é claro, os mantenham. De qualquer forma, o presidente Barack Obama já deixou claro que vetará qualquer iniciativa em sentido contrário.
O outro motivo é que o impasse reduz a chance de renovação dos estímulos fiscais previstos para vencer no fim deste ano -cerca de US$ 230 bilhões (1,5% do PIB), entre cortes de impostos trabalhistas e gastos com seguro-desemprego e infraestrutura. Espera-se que ao menos a desoneração para estimular o emprego seja renovada, mas a incerteza se estenderá até dezembro.
A causa principal do desentendimento é política e reside no acirramento da polarização entre democratas e republicanos. Os primeiros querem dividir o peso do ajuste entre gastos sociais e elevação de tributos para a parcela mais rica da população. A simples supressão dos cortes de taxas concedidos na era Bush, por exemplo, que expiram em 2013, economizaria US$ 800 bilhões em dez anos.
Já os republicanos, que gostariam de perpetuar as medidas de Bush, não querem ouvir falar de aumentos tributários. Aceitam apenas reformas seletivas para eliminar algumas isenções a empresas.
É uma atitude que, embora pareça irrealista, pois a dimensão do ajuste torna praticamente impossível não elevar impostos, encontra ressonância em ampla parcela da sociedade americana.
O desacordo deverá adiar as decisões para depois do pleito presidencial de 2012. Até lá ficará mais difícil desanuviar as incertezas em torno da política econômica americana -o que será um fator negativo a mais no cenário global.

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