sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A LÁGRIMA DE DIRCEU - AUGUSTO NUNES

Dirceu sacou a lágrima do coldre

Numa entrevista concedida há dois anos, a relações públicas Evanise Santos, mulher de José Dirceu desde 2003, contou que resolvera dedicar-se ao que chamou de “gerenciamento de imagem de políticos e empresas”. Eva, como é conhecida entre os amigos, revelou que já tinha um cliente: o marido. Foi ela quem o convencera a fazer um implante de cabelo, interromper a rotina sedentária com exercícios físicos e até aparecer numa festa organizada no mês anterior por Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho. Tudo era parte da luta para melhorar a imagem do político com quem vivia.
A luta continua, comprovam duas notas publicadas na Folha desta quinta-feira pela colunista Mônica Bergamo. Ambas sopradas pela gerente de marketing, ambas tentam deixar o freguês melhor no retrato. A primeira, sob o título SOL, diz o seguinte:
José Dirceu e sua namorada, Eva, passaram o Dia das Bruxas na pousada Triboju, em Fernando de Noronha, fechada para eles e outros 25 amigos. O grupo, na verdade, comemorou o aniversário dela, que pesquisa a mudança do ciclo lunar para escolher o local da celebração. Os donos da pousada, Ricardo e Durval Lelys, deram as diárias de presente aos convidados de Eva.
São vários recados embutidos em 15 linhas de jornal. Dirceu é marido amantíssimo. Dirceu é bom companheiro. Dirceu tem milhões de amigos (e pelo menos 25 do peito). Dirceu é tão sensível que, para derreter a patroa, é capaz de subordinar a agenda ao ciclo lunar. O dono da pousada gosta tanto do casal que patrocina as festas de aniversário de Eva e hospeda de graça os convidados. Não é pouca coisa. Mas não é tudo: a primeira nota é sobretudo uma preparação para a segunda, intitulada LÁGRIMA e separada em duas partes por uma estrelinha que acentua a dramaticidade da pausa.
Foi lá que souberam do câncer de Lula.
Eva disse aos amigos que, pela primeira vez em quase uma década, viu Dirceu chorar.
Reparem no “disse aos amigos”. Não ficaria bem a testemunha solitária da cena, ainda por cima casada com o protagonista, sair espalhando pelos jornais como foi esse instante tão raro e doloroso. Seria melhor camuflar a fonte primária, concordaram a informante e a colunista. E o texto fez de conta que a leal parceira do guerrilheiro durão revelou apenas aos muito amigos a história da lágrima ─ um monumento líquido aos laços estreitíssimos de afeto que unem Dirceu e Lula. Os amigos de Eva é que não souberam guardar segredo, certo?
Errado, berra uma ligeira consulta à coleção da mesma Folha de S. Paulo. Na edição de 28 de setembro de 2003, por exemplo, o jornalista que acompanhou a viagem de Lula e Dirceu a Havana descreve a cena ocorrida na véspera, no Palácio da Revolução, durante o encontro da dupla com Fidel Castro:
O ministro José Dirceu (Casa Civil) chegou a chorar quando se encontrou com o ditador cubano, Fidel Castro. Dirceu tentou até evitar que os presentes notassem o que estava acontecendo. Ele se virou de costas para os jornalistas na hora de enxugar as lágrimas com um lenço. Em seguida, respirou de forma profunda e pausada durante cerca de cinco minutos. O ministro considera Cuba sua segunda pátria e diz publicamente que deve a vida a Fidel Castro, que o acolheu no exílio.
É sempre assim quando encontra Fidel. “Para mim ele é como um pai”, explicou depois de recuperar-se do vendaval de emoções. m junho deste ano, agora formando uma trinca com Lula e o companheiro Franklin Martins, Dirceu voltou a encontrar o ditador-de-Adidas em Havana. Se não mentiu em 2003, deve-se deduzir que chorou há apenas quatro meses. Ou não contou para a mulher ou a gerente de imagem achou melhor poupar o ex-presidente de mais abalos.
Até agora, o comandante do bando de mensaleiros só sacava a lágrima do coldre para homenagear o pai honorário. Se Eva disse a verdade, então o chorão seletivo enxerga em Lula uma espécie de irmão. Ou mãe. A acusação é gravíssima. Não pode ser feita sem provas, sobretudo quando endereçada a alguém que precisa cuidar da saúde.

Do Blog:
Pausa para vomitar.
Novela mexicana não dá.

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