domingo, 6 de novembro de 2011

O FIM DA USP? OFICIALIZA-SE O MACONHÓDROMO.

O que diz Henrique Carneiro, professor da USP, um dos profetas da invasão: “É o capitalismo que vicia e proíbe as drogas”

REINALDO AZEVEDO

Tudo quanto é invasão, ocupação, movimento sei lá o quê conta com o apoio do professor Henrique Carneiro, uma figura que os leitores mais antigos deste blog conhecem. Ele é autor de algumas teses realmente originais. Uma de suas afirmações encantadoras é esta: “É o capitalismo que vicia e proíbe as drogas”… Que tal? Cumpre apresentá-lo a milhares de novos leitores. No dia 8 de maio de 2007, escrevi um texto intitulado “The clamour of the lambs”, que abordava a atuação do coroa e, VEJAM VOCÊS, a invasão da reitoria… Todo ano é a mesma coisa. Daquela vez, alguns professores resolveram discursar na assembléia dos estudantes em defesa da invasão. O mais radical foi Carneiro. Escrevi então.
"Quanto mais eu mergulho na realidade daquela rebelião promovida por 0,25% dos estudantes da USP [hoje é muito menos do que isso], mais a realidade me fascina. Abaixo, como viram, publiquei um link para a fala de vários mestres que foram lá incitar os estudantes à greve geral - assim, os dotô podem receber sem trabalhar. A fala mais encantadora, sem dúvida, é a do professor Henrique Carneiro, aquele que, com vozinha esganiçada, quer uma greve geral de todos os funcionários da educação.
Ele despertou a minha curiosidade. E, claro, me interessei pelas curiosidades dele. O Sitema de Currículos Lattes informa que o homem “desenvolve pesquisas em história da alimentação, das bebidas e das drogas”. Tô ligado. Na hipótese benigna, é uma Ofélia ou uma Palmirinha que mistura a erva daninha do marxismo no bolo de chocolate.

Mas eu queria saber mais. Em 1997, ele obteve o doutorado em História Social com uma tese cujo título é “Afrodisíacos e alucinógenos nos herbários modernos: a historia moral da botânica e da farmácia séculos XVI ao XVIII”. Não vejo a hora de não ler. Em 2003, num curso de extensão na Fefeléchi, ele deu duas aulas sob o seguinte tema: “Drogas: perspectivas em ciências humanas”. Perdi essa.

Se você quiser mais intimidade com o pensamento profundo desse libertador, leia as seguintes obras de sua lavra:
- Pequena enciclopédia de história das drogas e bebidas. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2005.
-Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo/Belo Horizonte: Alameda/Editora PUCMinas, 2005.
- Amores e sonhos da flora. Afrodisíacos e alucinógenos na botânica e na farmácia. 1. ed. São Paulo: Xamã Editora, 2002.

- A Igreja, a Medicina e o Amor. Prédicas moralistas da época moderna em Portugal e no Brasil. São Paulo: Xamã VM editora e Gráfica Ltda., 2000.

- Filtros, Mezinhas e Triacas: as drogas no mundo moderno. 1. ed. São Paulo: Xama VM Editora e Grafica Ltda., 1994.

Volto a 2011

Pois é… Alguns leitores ficaram bravos comigo. “Pô, Reinado, vai que o trabalho intelectual dele seja sério”. Outros quiseram saber: “Já leu os livros pra saber se são bons?” Tive de voltar ao assunto, o que fiz no dia 9 de maio de 2007, no post “Fui elegante, acreditem”. Tive de apelar um pouco à memória e comecei respondendo àqueles que indagavam se eu já tinha lido obra tão instingante.

É claaaro que eu não li!!!! Se tivesse tempo pra isso, iria conhecer a Jamaica ou o Afeganistão. Antes da obra de Carneiro, há muita coisa na fila. Vai sobrar livro para a vida que ainda terei. Infelizmente. A má notícia para todo mundo é que isso não vale só pra mim. Talvez o homem seja bom. Ele foi meu contemporâneo na USP. Dona Reinalda estudou com ele na Faculdade de História. Até fizeram trabalho juntos. Ela e seus amigos com 18 anos; ele com… 26! Já era, na década de 80, um, como vou dizer?, militante maduro da Convergência Socialista. Dizem que hoje está próximo ao PSTU. Não sei se é verdade, mas seria o caminho natural. Contra burguês, deve votar 16…

Carneiro era bastante conhecido no meio. Andava com um paletozinho xadrez, sempre o mesmo, dia após dia, eternidade afora, a eternidade da Fefeléchi… Com o tempo, as riscas iam sumindo, tornando-se apenas presumidas, sob uma camada de matéria parda e indefinida. Se eu quisesse ser mau com ele, o que não sou, diria que foi estudar comidas e outras mumunhas porque não teria como contar a história social do sabão. Mas eu não disse isso. (…)

O que me parece é que não falou com a responsabilidade de um maître à penser, mas como o velho militante da Convergência Socialista. Vale dizer: integra hoje a comunidade universitária; suas palavras têm o peso das de um doutor; é parte do establishment uspiano, mas se comporta com a mesma irresponsabilidade do antigo militante da Convergência Socialista - que, à época, já era antigo… Carneiro pode ter mudado de pele e de paletó, mas não de vício. Não, não li os seus livros. Conhecendo-o como conheço, não leria ainda que ele escrevesse a biografia de Santo Tomás de Aquino.

A tolice num homem velho me irrita tanto quanto a falsa gravidade num remelentinho.

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