sexta-feira, 11 de novembro de 2011

OS DONOS DAS ESCOLAS PARTICULARES E SEU PUNHADO DE MENTIRAS

Mensalidade sobe mais que inflação pelo 10º ano seguido

Alta média nos colégios da cidade de São Paulo deve ficar entre 8% e 12%
É preciso justificar aumento, diz Procon; pais de alunos em escola no Morumbi fazem abaixo-assinado

TALITA BEDINELLI - FSP
"Se eles querem lidar como um negócio, vão ter que escutar os clientes", desabafa o administrador financeiro Frederic Armand, 39, que no ano que vem terá um custo 23% maior na escola das duas filhas, o Porto Seguro.
O colégio no Morumbi (zona oeste) recebeu neste ano um abaixo-assinado com 1.700 assinaturas de pais indignados com o aumento da mensalidade, que, no ano que vem, deve ficar bem acima da inflação.
Para pais que pagam a anuidade em mensalidades, o aumento em relação a 2011 será de até 19%. Mas os que pagam à vista, como Armand, perderam ainda parte do desconto que vinha com essa modalidade; terão então custo 23% maior do que em 2011.
O colégio não é o único que terá um aumento grande em 2012. Segundo o sindicato das escolas particulares de SP, o reajuste deverá ser de 8% a 12%. A estimativa é que a inflação fique em 6,5% (IPCA-IBGE) ou 5,61% (IPC-Fipe).
Este será o décimo ano em São Paulo em que as escolas reajustam acima da inflação, segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), quando se considera o ensino fundamental, nível onde o aumento acumulado foi maior desde 2000.
A Folha consultou 20 das principais escolas de São Paulo e apenas uma, o Santo Américo (zona oeste), terá aumento abaixo dos 6,5% da previsão do IPCA. Será de 6% (maior que o índice da Fipe).
O maior reajuste será o do Centro Educacional Pioneiro, na Vila Mariana: de até 30%.
O Procon diz que a lei não impede que mensalidades aumentem mais que a inflação. Mas o aumento tem que ser justificado para os pais.
"A escola deve colocar a planilha com custos detalhados 45 dias antes da matrícula em local visível para que o pai saiba o porquê do aumento", diz a assistente técnica do órgão Leila Cordeiro.
O problema é que, quando as escolas divulgam esses dados, eles não são detalhados o suficiente para que os pais entendam, diz Hebe Tolosa, da Associação de Pais e Alunos de Escolas de São Paulo.
"Geralmente, a escola entrega uma planilha cheia de números que ninguém consegue analisar." Foi o que aconteceu no Porto Seguro, segundo Armand. "Não conseguimos entender nada da planilha. Tem que fazer auditoria."
Os pais recorreram também ao Ministério Público. Já a escola disse que não volta atrás.
Mesmo assim, para Armand, a mobilização foi proveitosa. Após o abaixo-assinado, eles decidiram montar uma associação de pais para discutir mais cedo o reajuste de 2013.
Colaboraram MAURO ZAFALON e ANDRESSA TAFFAREL


Colégios dizem que aumento serve para pagar professores

Além de reajustes dos profissionais, instituições atribuem índices acima da inflação a investimentos em tecnologia
Sindicato de escolas cita ainda crescimento do preço dos aluguéis em São Paulo como motivador de reajustes
Os reajustes acima da inflação nas mensalidades de 2012 se devem a um aumento no salário de professores e funcionários, a alta no valor dos aluguéis, a mudanças na grade curricular e ao investimento em tecnologia, dizem as escolas de São Paulo.
Segundo Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado, escolas que ficam em bairros mais nobres da capital tiveram nos últimos anos aumento de 500% no aluguel do imóvel.
Outro impacto grande no orçamento têm sido serviços de vigilância e manutenção -esses funcionários também tiveram aumento, diz ele.
O Porto Seguro afirma que o reajuste aconteceu porque a escola teve de aumentar o número de bolsistas para adequar-se a mudanças na lei que dá isenção de imposto para entidades filantrópicas.
Também diz que está repassando para os pais, aos poucos, o valor gasto com melhorias curriculares. Sobre a planilha não detalhada, diz que a faz como recomenda o Procon e que está disponível para esclarecimentos.
O Pioneiro afirma que o aumento de quase 30% no maternal aconteceu porque o valor da série estava muito defasado em relação ao custo. Além disso, a escola diz esperar que o reajuste de professores seja maior e que vai aumentar a carga horária.
O Vera Cruz também ressalta o dissídio dos professores e diz que só repassará o aumento para os pais em março, quando ele ocorre.
O Lourenço Castanho também afirma que o aumento se deve a previsão do dissídio.
É o mesmo argumento do Bandeirantes. O colégio afirma ainda estar investindo em tecnologias pagas em dólar.
O São Luís diz que seu aumento médio foi de 8,8%, devido ao aumento dos professores. Salários também são os motivos apontados pelo Dante, pelo Albert Sabin, Arquidiocesano e Stocker.
O Rio Branco disse que o reajuste "reflete o mínimo necessário para custear a qualidade da instituição" e que "os índices de inflação (...) não refletem a realidade do mercado, para a operação no segmento da educação."
O Batista Brasileiro afirma que os custos da escola se baseiam não apenas no IPCA.
Palmares, Maria Imaculada, Móbile, Santo Américo, Santa Maria, Objetivo e Etapa não responderam à Folha. A reportagem não conseguiu contato com o Vértice.


Colaborou EDUARDO GERAQUE

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