terça-feira, 29 de novembro de 2011

POLÊMICA: REVISTA ÉPOCA

Uma Época revolucionária Felipe Melo - MSM
A reportagem da revista Época não passa, em última instância, de um grande desfile dos mitos e mentiras que, ao longo dos anos, foram meticulosamente construídos pela esquerda.
A revista Época dessa semana publicou duas matérias – "Os Arquivos Secretos da Marinha" e "Os Infiltrados da Ditadura" – sobre o regime militar. O objeto das matérias é um conjunto de documentos microfilmados do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) que, de acordo com a revista, "revelam o submundo da repressão às organizações de esquerda durante a ditadura militar". O propósito da matéria, pode-se pensar, é o de expor a realidade do combate aos grupos terroristas de esquerda, que atuavam no Brasil desde o início da década de 1960; entretanto, essa esperança ingênua é deliberada e meticulosamente desconstruída em doze páginas de mentiras ruminadas e propaganda pró-esquerda. Abaixo, reproduzo alguns dos trechos mais enviesados da reportagem.
Reveladores, os papéis microfilmados divulgados por ÉPOCA antecipam alguns dos debates mais importantes previstos para a Comissão da Verdade, cuja lei de criação foi sancionada recentemente pela presidente Dilma Rousseff. Aprovada pelo Congresso, a comissão foi criada com o objetivo de esclarecer os abusos contra os direitos humanos cometidos, principalmente, durante a ditadura militar. Se investigar a fundo o que se passou nas entranhas do aparato repressivo, chegará à participação de militantes de esquerda nas ações que levaram à prisão, à morte e ao desaparecimento de antigos companheiros.
Os elementos do raciocínio que compõe o trecho acima são claros: 1) a comissão vai investigar abusos contra os direitos humanos; 2) tais abusos foram cometidos, em grande parte, durante o regime militar; 3) tais abusos, igualmente, foram cometidos exclusivamente pelo regime militar; 4) apenas os militantes de esquerda que colaboraram com o regime é que cometeram abusos contra os direitos humanos. Esses mesmos militantes, entretanto, não podem ser responsabilizados por quaisquer dos crimes contra os direitos humanos, pois, como afirma a própria reportagem, "foram recrutados pelos serviços secretos entre os esquerdistas, por pressão ou tortura." Trocando em miúdos: todo e qualquer crime potencial ou efetivamente danoso aos direitos humanos foi cometido exclusivamente pela ditadura militar.
Para compreender bem o confronto sangrento entre as Forças Armadas e as organizações de inspiração comunista, é necessário lembrar o contexto da época. O mundo vivia a Guerra Fria, período de polarização ideológica em que Estados Unidos e União Soviética disputavam o controle de regiões inteiras do planeta. O Brasil importou o conflito internacional. O governo militar tinha o apoio dos Estados Unidos, e parte da oposição aderiu aos regimes comunistas, com forte influência de Cuba e China. O PCB se dividiu em dezenas de siglas adotadas por grupos radicais que adotaram a luta armada como instrumento para a derrubada dos militares. O PCB defendia a via pacífica para a chegada ao poder. Nem assim escapou da perseguição do aparato repressivo e muitos de seus seguidores foram mortos e desapareceram com a participação direta da comunidade de informações.
O PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em 1922, faz parte atualmente da base aliada do governo do PT. Recentemente, esse partido publicou nota oficial lamentando a morte do narcoterrorista colombiano Alfonso Cano, líder das FARC, morto recentemente em uma incursão do exército da Colômbia. Em um documento oficial do PCB sobre sua estratégia de ação, lê-se: "A luta pela hegemonia das ideias socialistas e comunistas compreende a utilização de todas as formas disponíveis e todos os espaços políticos aos quais tenhamos acesso para difundir e desenvolver as ideias políticas socialistas e comunistas e para promover a denúncia contumaz e radical do capitalismo." Durante o regime militar, o PCB fez jus à "utilização de todas as formas disponíveis" e serviu de manjedoura para grupos guerrilheiros cujas práticas envolviam assalto, seqüestro, tortura e assassinato – inclusive de seus próprios membros, sobretudo aqueles suspeitos de traição.
O Brasil não importou a Guerra Fria para o território nacional. Foi a ação dos grupos subversivos no País – que contavam com amplo apoio financeiro, logístico e de treinamento da União Soviética desde o governo Vargas – que não apenas ensejou a Revolução de 1964, como também a atuação constante dos serviços de segurança. Ao contrário do que afirma a reportagem, os terroristas não "adotaram a luta armada como instrumento para a derrubada dos militares": seu objetivo era a instauração de uma ditadura comunista no Brasil aos moldes do que se viu na União Soviética, em Cuba e na China, onde os governos se converteram em um gigantesco e horrendo moedor de carne humana. O foco não era derrubar os militares, mas instaurar um regime totalitário marxista.
Mais adiante, a reportagem a morte do estudante Edson Luiz, ocorrida em março de 1968, "foi um dos fatos mais marcantes daquele período, que culminou com o recrudescimento da repressão pelo regime militar e a implantação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) no final de 1968". Mentira das mais desonestas! Antes da instauração do AI-5, foram cometidos 19 assassinatos por terroristas comunistas. Fora as vidas que foram tiradas, assaltos e seqüestros eram promovidos com freqüência. A instauração do AI-5 constituiu-se, portanto, em uma reação às atividades criminosas dos militantes de esquerda – ao contrário do que prega a esquerda, que justifica a ação armada como uma reação legítima ao endurecimento do regime.
Os papéis microfilmados constituem um valioso acervo para a compreensão dos métodos empregados pelos órgãos de repressão. Por razões óbvias, nos registros não constam as práticas mais hediondas, como tortura, prisões ilegais, assassinatos ou desaparecimento de pessoas. Mas eles têm o mérito de expor personagens e mostrar o roteiro das perseguições aos inimigos do regime.
Esse trecho em particular mostra, de maneira bastante ilustrativa, a negação hegeliana do princípio da não-contradição que reside no seio do pensamento revolucionário. Acompanhem: os documentos detalham os métodos que foram utilizados pelas forças de segurança; esses documentos não trazem nenhuma informação quanto às "práticas mais hediondas" que, propagandeia-se, foram uma verdadeira política de Estado do regime militar; nesse caso, a prova de que essas práticas existiram é, justamente, a ausência de quaisquer provas!
Além disso, enquanto os militares cometeram "assassinatos", os militantes de esquerda cometeram "execuções" e "justiçamentos". A palavra "execução" inspira uma morte limpa, rápida e, em certo sentido, misericordiosa, como um tiro na nuca; a palavra "justiçamento", por sua vez, evoca praticamente a manifestação da infalível Justiça Divina. O recurso neurolingüístico embutido na utilização desses termos é claro: conferir legitimidade e superioridade moral, de maneira sub-reptícia, às mortes provocadas pela esquerda. Poderia o bárbaro assassinato do tenente Alberto Mendes Jr., cuja cabeça foi esmigalhada a golpes de coronha de fuzil, poderia ser considerada, sob qualquer aspecto, uma morte limpa, rápida ou misericordiosa?
A reportagem da revista Época não passa, em última instância, de um grande desfile dos mitos e mentiras que, ao longo dos anos, foram meticulosamente construídos pela esquerda. Perpetua-se a ilusão de que aqueles que recorreram ao assassínio, ao roubo e ao seqüestro como forma de promover uma ideologia responsável por dezenas de milhões de mortes ao redor do mundo foram, na verdade, guerreiros impávidos movidos pelo mais puro amor à democracia e à liberdade. Fossem esses "cavaleiros da esperança" bem-sucedidos em sua luta, estaríamos hoje vivendo em um grande cemitério de mortos-vivos, todos reduzidos a engrenagens humanas de um Estado totalitário desprovido de Deus e entronado pela Morte.
Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UNB.

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