segunda-feira, 7 de novembro de 2011

ROSI MALLET

"Meu fusca não falava, mas dava muitas risadas"

... Todos os bacanas queriam estar lá, ver e ser vistos, como se dizia na época, tão escassa em festas; os modelitos da mulherada, mofando nos guarda-roupas, imploravam por uma voltinha. Roupa bonita e de qualidade eu ainda tinha. Mas o senhor dos descamisados me transformara numa sem-carro...
A historinha que vou contar me voltou à cabeça quando lia o blog da jornalista e amiga do peito Marli Gonçalves. Lá, soube que John Malkovich estará no Brasil em novembro para encenar a peça "The Infernal Comedy - Confissões de um serial killer".
Mas o que a minha história tem a ver com John Malkovich? É que ela se passa no Maksoud Plaza, onde Malkovich (O Império do Sol e Queime depois de ler, entre outros ótimos filmes) vai se hospedar dos dias 4 a 7, na passagem por São Paulo. ("The Infernal..." passará antes por Salvador e Rio de Janeiro).
Esclarecimento feito, vamos aos fatos.
Vivia-se o Plano Collor: nada de dinheiro no bolso, o que restara preso no banco, e quase nenhum cliente em carteira - eles tinham batido asas já que não eram bestas de manter contratos ou contratar serviços de assessoria de imprensa sem saber onde e como aquilo tudo ia acabar (passados 21 anos, todos sabemos onde fomos parar; mas esta é outra história).
Meses depois daquele março, apareceu um trabalho interessante e bem pago (naqueles tempos, qualquer trabalho automaticamente ganhava status de interessante e bem pago): a pré-estreia para a imprensa, publicitários, socialites e outros convidados, do filme Dick Tracy, três Oscars no ano seguinte, 1991. Com Warren Beatty na pele do detetive dos quadrinhos que além de bonito e inteligente, vestia uma chamativa e irresistível capa de gabardine amarelada, tinha também Al Pacino, Dustin Hoffman e a novata Madonna. Era sucesso garantido - enfim, uma boa notícia!
Convites enviados, RSVP feito, coquetel de primeira no Maksoud - o mesmo que agora faz um trabalho hercúleo para voltar ao circuito chique de São Paulo. Todos os bacanas queriam estar lá, ver e ser vistos, como se dizia na época, tão escassa em festas; os modelitos da mulherada, mofando nos guarda-roupas, imploravam por uma voltinha.
Roupa bonita e de qualidade eu ainda tinha. Mas o senhor dos descamisados me transformara numa sem-carro - para circular me restara um fusca 76, azul, todo fubequento, até então usado apenas para entregas de press-releases, brindes e outras inutilidades. Portanto, segui para o Maksoud na latinha velha, suja e amarfanhada, na companhia de meu sócio e do gerente da assessoria. A reação dos manobristas à vista do veículo foi a de um quê de surpresa mal disfarçado por olhos estalados. Adeptos da "décadence avec élégance", desembarcamos os três na maior estica, passamos pelo porteiro e entramos naquele hall imponente (sugestão aos mais jovens, que nunca entraram lá: vale a visita).
O evento foi, mesmo, um sucesso. Gente inteligente, gente chata, gente elegante de verdade, outro tanto bem menos, todos alegres, um sorriso só. E o mais importante: cliente satisfeito. Terminada a jornada, hora de voltar para casa. Lá fui eu, uns quinze centímetros mais alta do que o meu metro e meio (mais sete centímetros, na época) de altura, resgatar o fusca, sempre arrastando o sócio e o gerente. Sob os olhares surpresos daquela trupe chique, provavelmente tão dura como nós só que bem motorizada, chispamos de lá. O fusca azul era fubequento, mas nosso porte era de colecionadores.
Se John Malkovich subir ao último andar do Maksoud Plaza e usar um pouquinho de sua admirável imaginação, conseguirá ver e ouvir, em meio à magnífica paisagem noturna de São Paulo, o desengonçado fusca azul na Avenida Paulista, chacoalhando que nem um saco de risadas.
Sabe que aqueles até que foram tempos bem divertidos?






Nenhum comentário: