sexta-feira, 25 de novembro de 2011

TODOS PAÍSES DA UE DEVEM ARCAR COM AS DíVIDAS DE SEUS MEMBROS?

"Há países que não participam da dívida, por que devem pagar?", questiona premiê da Eslováquia

Gloria Torrijos - El País
Em Bratislava (Eslováquia)

Premiê eslovaca, Iveta Radicova, desmente que Nicolas Sarkozy a tenha feito chorar em uma reunião do Conselho Europeu porque a Eslováquia resistiu a aprovar o resgate

Iveta Radicova, primeira-ministra em exercício da Eslováquia, declara que a UE precisa da solidariedade de cada membro para superar esta crise, restaurar regras de atuação para mercados e instituições financeiras que sejam cumpridas por todos, e que os descumpridores sejam sancionados.
Ela se empenhou tanto para que o Parlamento aprovasse a ampliação do fundo de resgate para a Grécia, que a vinculou a uma moção de confiança a sua coalizão governamental de centro-direita. Radicova a perdeu em 11 de outubro, com a conseguinte queda de seu governo. Conseguiu a aprovação do Legislativo com o apoio do opositor partido esquerdista SMER em troca de eleições antecipadas em março.
Nesta entrevista ela desmente que Nicolas Sarkozy a tenha feito chorar em uma reunião do Conselho Europeu porque a Eslováquia resistiu a aprovar o resgate. Radicova dirige o país da Europa do Leste mais endividado (45% do PIB) e um dos menores do bloco monetário.
El País: A senhora está de acordo com uma UE de duas velocidades?
Iveta Radicova: Já temos três velocidades e pode-se dizer que quatro, se levarmos em conta Montenegro, que não é da UE, mas tem como moeda o euro [desde que o adotou em 2002]. Os países da UE estabeleceram regras para entrar na zona do euro, mas se não as cumprem, se mentem para seus cidadãos e sócios sobre a situação de suas economias, e se as agências de classificação e a Eurostat erram totalmente, há uma conduta irresponsável dos políticos, governos e do setor bancário... e afinal temos crise. Para estar na zona do euro é preciso cumprir as regras. Ou você aceita ou sai.
El País: O que podemos fazer?
Radicova: Restabelecer mecanismos de controle e a imposição de sanções.
El País: A senhora apoia o lançamento de eurobônus pelo Banco Central Europeu?
Radicova: Não creio que seja a maneira de resolver o problema. Não seria justo. Há países como a Eslováquia que não participaram da dívida. Então por que têm de pagar? Por que têm de estar envolvidos em um custo tão alto? Isso não é uma união. Uma união é solidariedade. Se os membros querem fazer as mudanças necessárias, como Portugal e Irlanda, os apoiamos; do contrário não. Meu governo e eu pagamos um preço muito alto para que a zona do euro pudesse resgatar a Grécia, porque se a Eslováquia chega a negar-se a aprovar o plano [foi o último dos 17 países da zona do euro a fazê-lo], não teria saído. Não tínhamos opção.
El País: A UE é um clube com sócios demais?
Radicova: Não. O que ocorre é que é uma união multicultural com passados comuns, como a Segunda Guerra Mundial e a guerra fria, e outros diferentes, como o comunismo, o fascismo de Franco, o de Mussolini e o de Hitler. Os sócios devemos tentar encontrar instrumentos democráticos, um acordo e um objetivo comuns. Algo muito difícil, porque não se podem esquecer os 40 anos de terrível herança comunista que alguns países padecemos. Não se trata de quanto somos, mas de que tipo de união temos. As diferentes velocidades da autopista que é a UE surgem dos passados históricos de cada Estado, e por isso é muito complicado chegar a acordos. O importante é que todos vamos pela mesma estrada.
El País: Por que, segundo testemunhas, a senhora abandonou o Conselho Europeu na noite de 26 para 27 de outubro, chorando? Foi porque o presidente Nicolas Sarkozy a repreendeu por ter resistido a aprovar o resgate da Grécia?
Radicova: Não é verdade. Nicolas é muito emocional e eu também, mas jamais chorei em um conselho.
El País: Como a senhora vê o papel dos sócios comunitários pequenos e recém-chegados à UE?
Radicova: A democracia costuma se basear na maioria dos votos, mas para mim é preparar condições para proteger os direitos das minorias. A democracia deve ser medida de acordo com sua qualidade, que se baseia no respeito ao país, ao governo, ao orçamento, aos direitos humanos, etc.
El País: Foi boa a ideia da Eslováquia de entrar na zona do euro?
Radicova: Sim. Criou empregos e atraiu investimentos. Agora temos problemas, mas assim é o ciclo econômico. Se trabalharmos juntos para encontrar a saída, nossas possibilidade de êxito serão maiores.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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