sábado, 31 de agosto de 2013

By Amarildo

 

Nordeste apaga: Quem responde por isso?
Vitor Hugo Soares
De repente, não mais que de repente, o apagão. A luz se desfaz na Bahia em plena tarde da quarta-feira (28) de agosto e inverno. Salvador - pela terceira vez desde setembro do ano passado - despenca na ribanceira do caos. Choro e ranger de dentes de ponta a ponta da cidade e sua região metropolitana.
Para piorar, a capital do estado de 15 milhões de habitantes (dados saídos do forno do IBGE esta semana), não envereda sozinha na quarta-feira de cão que se alastra em cadeia de sustos, medos, ausência de comando e omissões oficiais. Desesperos e a sensação de abandono que se espalha a seguir, à medida da aproximação da noite.
Fuga, mulheres atacadas por ladrões em vias públicas na volta do trabalho ou saídas dos shoppings. Populares fazendo papel improvisado de polícia quebram perna de ladrão e o deixam gritando de dor em uma das mais movimentadas avenidas (Tancredo Neves). Portas de comércio e lazer arriadas às pressas no centro e subúrbio. Caos no trânsito sem sinaleiras, mesmo um dia depois da luz voltar .
De Aracaju a Recife, de João Pessoa a Teresina, as maiores cidades de oito estados, da região que, praticamente, garantiu a vitória eleitoral da presidente Dilma Rousseff em seu desembarque no Palácio do Planalto, penaram muito. Todas elas permaneceram sem energia ao menos durante uma hora e meia, antes que os serviços começassem a ser normalizados.
Tudo em meio a informações desencontradas, omissões, despreparo administrativo para enfrentar crises e imprevistos graves. As desculpas mal alinhavadas e contraditórias. Dedos oficiais apontados para "os culpados de sempre". Algo assim, mal comparando, semelhante à antológica cena final do filme "Casablanca", sintetizada no diálogo entre o chefe de polícia e Rick Blaine, exilado americano dono da casa noturna local, magistralmente encarnado por Humphrey Bogart .
Mas estamos em fins de agosto de 2013 e já praticamente não se produzem mais roteiro ou filmes como "Casablanca". Muito menos no Nordeste, de onde escrevo estas linhas, ainda espantado com cenário baiano e soteropolitano do apagão desta semana.
A começar pela nuvem de fogo e fumaça negra que cobriu o céu de Camaçari, na região metropolitana, quando as brigadas de segurança iniciaram uma operação de emergência nas fábricas para evitar o pior, diante da parada brusca e inesperada do fornecimento de energia elétrica na área do maior complexo petroquímico nordestino e um dos mais importantes e estratégicos pólos industriais do País.
A paralisação em Camaçari (com os enormes prejuízos econômicos ainda por levantar), foi por motivos de segurança inadiáveis e urgentes, revela o jornalista Érico Oliveira, superintendente de comunicação do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC).
As chamas e fumaça negra que saíam das chaminés das fábricas – ao mesmo tempo da evacuação do pessoal administrativo do Polo - causavam assombro e preocupação a muita gente. "Isso tudo são procedimentos normais", diz o experiente e calmo Érico, ao lembrar ser esta a terceira vez que algo assim acontece, desde setembro do ano passado.
Menos mal.
“Graças vos damos oh soberana Princesa!”, diria a minha religiosa mãe, se viva estivesse, ao seu filho ateu que acredita em milagres, ao puxar suas orações mais poderosas dos momentos de maior perigo.
Apanhado pela notícia do blecaute nordestino durante visita a Minas Gerais, o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, jogou a culpa nas queimadas em fazenda do Canto do Buriti, do Piauí. Ele, um nordestino do Maranhão (único estado da região a escapar do apagão de quarta-feira) deu entrevista sem demonstrar maior preocupação, em tom blasé e o velho toque de arrogância do naipe de ministros do governo Dilma, com padrinhos poderosos, que parece repetir frente aos erros mais bisonhos e às mais graves situações: “Comigo ninguém pode!”.
Segundo o ministro, o sistema foi restabelecido em seguida à queda. Mas caiu, novamente, afetando uma linha que interliga o resto do País ao Nordeste. Depois, repetiu a ladainha de que o sistema elétrico brasileiro “é forte” e sem fragilidades.
“Isso acontece no Brasil, nos EUA e em outros lugares”, disse Lobão, indiferente aos prejuízos econômicos e gritos de desespero em Salvador e outras capitais e cidades em oito estados. E os que partem do Palácio do Planalto, em cobrança de investigações cabais e confiáveis, sobre o que efetivamente causou o apagão e o inferno de quarta-feira passada no Nordeste.
Antes do próximo, fica no ar a pergunta: “Quem responderá por isso no Brasil”?

Esse é o meu Francis!

Via atgn

ISRAEL KAMAKAWIWO'OLE - HOKULE'A STAR OF GLADNESS


megingjord:

(via 500px / Waterfall by Kristjan Rems)
(via Waterfall by Kristjan Rems)

BON JOVI - LIVIN' ON A PRAYER


Brasil pelo método confuso
Ruy Fabiano
Na política (e na vida), assim como há situações auto-explicáveis, há também o seu inverso: as auto-inexplicáveis. Ambas dispensam explicações: uma por desnecessário, outra por impossível. O Brasil deve ser recordista nas duas.
Os exemplos remontam ao início do país, talvez o único cuja independência foi proclamada pelo próprio dominador, herdeiro da dinastia governante, que, após nove anos no poder, abdicou e voltou ao país de origem para governá-lo. Exemplo de esquizofrenia política, que Freud não teve a oportunidade de conhecer – e tratar.
Na República, os exemplos são ainda mais abundantes. Tivemos, por exemplo, um presidente da República, Delfim Moreira (1918-1919), que enlouqueceu no cargo.
Para evitar mudanças no calendário eleitoral, o país foi governado pela mão invisível de um ministro, Afrânio de Melo Franco, num pacto silencioso em que todos, antecipando Lula, garantiam não saber de nada. Uma loucura.
A grande e decisiva batalha da Revolução de 1930 foi a que não produziu um único disparo: a de Itararé, muito apropriadamente chamada de “a batalha que não houve”.
Na era Vargas, o secretário-geral do Partido Comunista, Luiz Carlos Prestes, foi preso e submetido a tratamento tão abjeto que seu advogado, Sobral Pinto, recorreu à lei de proteção aos animais para defendê-lo. Não obstante, ao sair da cadeia, em 1945, Prestes subiu ao palanque de quem o prendera, não para denunciá-lo, mas para, inversamente, pedir sua permanência no poder.
Mas é na Era PT que os exemplos se multiplicam e se tornam rotineiros, desembocando, esta semana, na criação da inédita figura do deputado-presidiário, Natan Donadon, que aproveitou a circunstância para se queixar da xepa (sic) do presídio.
O Legislativo, porém, está longe de ser o único protagonista dos casos desta Era. Há, quanto a isso, ampla reciprocidade. Donadon é fruto de uma decisão do Supremo Tribunal Federal segundo a qual, mesmo condenado em última instância, o parlamentar só perde o mandato se sua Câmara assim o quiser.
Antes de Donadon, dois outros condenados em instância final pelo STF – os deputados João Paulo Cunha e José Genoíno – não apenas mantiveram seus mandatos, como passaram a integrar a Comissão de Constituição e...Justiça da Câmara.
Lá, recepcionaram uma emenda que pretendia submeter as decisões do STF à deliberação do Congresso. Considerando-se alguns personagens e procedimentos recentes do STF, até que aquela decisão ganha algum sentido.
O ministro Dias Toffoli, por exemplo, é relator de uma ação que tem como réu o Banco Mercantil do Brasil (BMG). Há, porém, um detalhe, considerado irrelevante: é simultaneamente relator e tomador de empréstimo no banco, numa operação em que obteve, segundo O Estado de S. Paulo, nada menos que R$ 1,4 milhão.
Ora, mas o que é isso para alguém que se julga desimpedido de julgar (e julga!) um ex-chefe, José Dirceu, do partido para o qual advogou, o PT? Numa petição ao TSE, em 2006, quando advogava na campanha pela reeleição de Lula, Toffoli afirmou que o Mensalão “nunca ficou comprovado”. Mesmo assim, está julgando-o.
Bem, e a Bolívia? O PT mantém relações de subserviente surrealismo com aquele país, governado por Evo Morales. Em 2007, Morales, apossou-se, manu militari, de uma refinaria da Petrobras. A reação de Lula foi comovente: “Eles são pobres”. E ponto final.
O contribuinte brasileiro, que, como se sabe, é rico, teve direito apenas à perplexidade, da qual ainda não saiu, já que a Bolívia parece ser um filão inesgotável. Lá, estiveram presos por cerca de seis meses, sem processo ou culpa formada, 12 torcedores do Corinthians, em decorrência da morte de um torcedor boliviano.
Tratou-se de um crime, sem dúvida, mas sem autoria identificada e sem meios de obtê-la, o que tornou ilegal a prisão. O governo brasileiro não fez qualquer manifestação a respeito.
Quando o avião de Evo Morales, em julho passado, foi submetido a revista no aeroporto de Viena, sob suspeita de trazer a bordo o ex-agente americano Edward Snowden, a presidente Dilma emitiu furiosa nota de desagravo ao presidente boliviano, que em momento algum se mostrou reconhecido.
Ao contrário, reage agora com indignação à vinda do senador Roger Pinto Molina ao Brasil, que já lhe concedera asilo, embora sem o indispensável salvo conduto para materializá-lo. O asilo é ato humanitário, previsto em tratados dos quais Brasil e Bolívia são signatários. Dá-lo sem salvo conduto é como não dá-lo.
E é absurdo é alguém ser mantido por 455 dias numa sala, ainda que de uma confortável embaixada, sem direito a visitas e sem perspectiva de saída. A metáfora do Doi-Codi, que tanto irritou a presidente, é pertinente. Absurda e lamentável é sua performance no episódio, cujo desfecho entrará para o rol dos casos simultaneamente auto-explicáveis e auto-inexplicáveis caso se submeta à exigência de Morales (mais uma) devolvendo o senador.
Infelizmente, não sobra espaço para um paralelo com o caso Cesare Battisti e um exame da estranha mutação humanitária de nossa diplomacia, movida a ideologia.
Diplomata brasileiro deverá "lutar" para gerir OMC
Alain Faujas - Le Monde
Valter Campanato/Agência Brasil

17.mai.2013 - O novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo, ao conceder sua primeira entrevista no Brasil após ser eleito para o cargo17.mai.2013 - O novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo, ao conceder sua primeira entrevista no Brasil após ser eleito para o cargo
O sucessor de Pascal Lamy na direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, assumirá o cargo em 1º de setembro. Seu antecessor lhe avisou: "A OMC anda como um enorme petroleiro, e seu diretor-geral não é seu capitão. Ele precisará lutar para vencer a tendência dos diplomatas à procrastinação."
Roberto Azevedo é um diplomata dos pés à cabeça. Oriundo de Salvador, na Bahia (Brasil), ele permaneceu dezesseis anos alocado em Genebra. Aos 55 anos, ele conhece de cor a mecânica das negociações comerciais, tendo contribuído na condenação dos Estados Unidos por seus subsídios ao algodão, e da Europa por seus subsídios ao açúcar.
Para ajudá-lo em sua tarefa, ele escolheu quatro diretores adjuntos, representantes ou ex-representantes de seus países junto à OMC: um alemão, um americano, um chinês e um nigeriano. Seu chefe de gabinete será o embaixador australiano. Assim todos os continentes estão representados, mas não há mais nenhuma mulher nem francófonos na equipe principal.

Primeiro grande teste em Bali

Roberto Azevedo sabe que a OMC deve concluir de uma maneira ou outra as negociações da rodada Doha, pois, segundo ele, "o sistema comercial está enfraquecido pela completa estagnação das negociações". Ele sabe também que os Estados Unidos começaram a cercar a China ao propor uma parceria transpacífica e outra à Europa. E que o desenvolvimento dos acordos bilaterais poderia prejudicar a legitimidade da OMC, cujas regras se aplicam ainda para 85% do comércio mundial.
Ainda que originário de um país que voltou a se tornar protecionista com sua presidente Dilma Rousseff, o novo diretor da OMC pretende dar "novo fôlego, vital para desbloquear o sistema comercial multilateral". A conferência ministerial da OMC em Bali (Indonésia), de 3 a 6 de dezembro, deverá lhe permitir explicar como o fará.
As condições não parecem estar ruins para seu primeiro grande teste. Em julho, os representantes dos Estados-membros deram a impressão de que eles estavam prontos para avançar na direção de uma simplificação dos procedimentos aduaneiros que reduziria em muito os custos do comércio, sobretudo para os países isolados. A ideia seria também que os países em desenvolvimento fossem autorizados sob certas condições a fornecer uma ajuda alimentar às suas populações ameaçadas de fome e, para isso, proteger sua agricultura indo contra as regras da OMC.
Será que ele irá propor reformas institucionais, para que a organização saia de um torpor que só poupa seu temido "órgão de acertos de divergências"? Para Richard Baldwin, professor de economia internacional do Graduate Institute de Genebra, a questão está mal formulada: "Não é a OMC que precisa de reformas, mas sim seus Estados-membros." Em suma: eles devem superar seu egoísmo sagrado e sua falta de visão.
Tradutor: Lana Lim
PIB surpreende e cresce 1,5% no 2º tri
Puxado por indústria e investimentos, resultado interrompe nove trimestres seguidos de variações inferiores a 1%
Insegurança de empresários e alta do dólar, porém, podem levar a crescimento menor no 2º semestre
GUSTAVO PATU/PEDRO SOARES - FSP
A economia brasileira finalmente deu um sinal de vitalidade ao mostrar crescimento, no segundo trimestre do ano, superior às expectativas mais otimistas do mercado e do governo.
Mas, ainda que amenize o pessimismo até então crescente entre analistas e investidores, o resultado está longe de encorajar apostas em uma melhora mais vigorosa daqui para a frente.
Conforme as contas divulgadas ontem pelo IBGE, a expansão da produção e da renda do país --ou, em economês, do Produto Interno Bruto-- chegou a 1,5% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores.
Trata-se de uma taxa que, se tivesse continuidade, proporcionaria um crescimento de 6% ao ano, quase o triplo do esperado para 2013 pela maior parte do mercado.
Foi interrompido o mais longo ciclo de declínio e estagnação desde o Plano Real: a economia começou a desacelerar no segundo semestre de 2010 e, no governo Dilma Rousseff, já colecionava nove trimestres consecutivos de variações inferiores a 1%.
Melhor ainda, o salto trimestral foi puxado pela indústria, o setor mais abalado pela crise econômica internacional, e pelos investimentos, os gastos destinados à ampliação da capacidade produtiva do país.
Depois de encolherem em 2012 a despeito de sucessivos pacotes oficiais de estímulo, os investimentos já acumulam alta de 6% neste ano, bem superior aos 2,2% do consumo das famílias.
Os números espelham os objetivos da política econômica: quando o consumo cresce mais que a capacidade nacional de produzir bens e serviços, há pressão sobre os preços --o que ajuda a explicar a alta da inflação. "A expectativa de um novo padrão de crescimento da economia brasileira baseado nos investimentos ganha força", conforme análise publicada pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Houve ainda uma forte recuperação da agropecuária, que havia caído 2,3% no ano passado e acumula crescimento de 14,7% no ano. A contribuição só não foi maior porque o setor tem participação de apenas 5% no PIB.

PORÉNS

Justamente na indústria e nos investimentos, porém, estão os obstáculos mais visíveis à continuidade da aceleração da economia.
Os últimos dois meses foram de piora das expectativas em relação ao futuro. O índice de confiança da indústria, medido pela Fundação Getulio Vargas, caiu para o nível mais baixo desde julho de 2009, quando o país saía de uma recessão.
A incerteza cresceu com a valorização do dólar, que encarece os importados, dá novo impulso à inflação e pode obrigar o Banco Central a elevar mais os juros para conter o consumo e o investimento.
"Já há sinais de contração da indústria (que puxou o PIB do segundo trimestre pelo lado da oferta) e do investimento no início do terceiro trimestre", conforme relata boletim enviado pelo Itaú Unibanco a seus clientes.
À frente, o dólar mais alto tende a estimular as exportações e, consequentemente, a produção industrial. Mas o impacto inicial é negativo.
"A curto prazo, o câmbio atrapalha porque pressiona a inflação, e a resposta [do BC] será segurar o crescimento", diz Armando Castelar, economista da FGV.

PROJEÇÕES MODESTAS

Tudo considerado, as projeções para a expansão da economia neste ano e no próximo tendem a passar por uma ligeira elevação, mas continuarão modestas.
A estimativa do governo de 2,5% em 2013 ficou mais palpável --o Itaú, por exemplo, elevou a sua de 2,1% para 2,4%-- e a de 4% em 2014 não é considerada realista por bancos e consultorias.
Uma das explicações é que, apesar da expansão deste ano, a taxa nacional de investimento não passou de 18,6% do PIB, ainda abaixo dos patamares de 2011 (18,8%) e 2010 (19,2%).
Pelo diagnóstico da própria equipe econômica no início do governo Dilma, uma taxa de 25% do PIB deve ser perseguida para sustentar um crescimento econômico vigoroso e duradouro.
Um desafio para o ministro nº 40
ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo
O juízo final vai criar um grave problema para os ministros da área econômica. Por falta de futuro, eles ficarão impedidos de prever - ou de prometer - resultados melhores para o ano seguinte, como fez ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Por enquanto eles têm essa rota de fuga, especialmente valiosa quando o cenário de curto prazo parece muito inseguro. Mesmo diante do resultado aparentemente bom do primeiro trimestre, o ministro evitou projeções para 2013 e anunciou 2014 como um ano "mais promissor". Que significa promissor? A resposta será especialmente importante para o trabalho do ministro número 40, principal ajudante da presidente Dilma Rousseff, seu marqueteiro eleitoral e grande planejador de ações políticas de impacto.
O ministro da Fazenda recusou indicar números, mas talvez possam servir como referência de um ano "promissor" as estimativas incluídas na proposta de lei orçamentária para 2014:4% de expansão para o produto interno bruto (PIB) e inflação de 5%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado na política de metas do Banco Central (BC).
Não são de fato previsões, disse Mantega ao apresentar o projeto, na quinta-feira, como se os técnicos tivessem tomado quaisquer hipóteses mais ou menos críveis para calcular a receita e a despesa do próximo exercício. Pode parecer meio estranho, mas só um pouco. Afinal, nenhuma esquisitice deste governo causa mais muita estranheza. Para o marqueteiro presidencial, no entanto, esses números poderão ser muito relevantes.
Só para um exercício muito simples, admita-se para este ano um crescimento econômico de 3% - por enquanto, uma hipótese otimista. Se o PIB aumentar 4% em 2014, a expansão acumulada nos quatro anos de mandato da presidente Dilma Rousseff será de apenas 11%. A produção de bens e serviços terá crescido a uma taxa média inferior a 3% ao ano. Se a perspectiva de um desempenho ainda medíocre neste ano e no próximo se confirmar, o mercado de emprego ficará provavelmente mais fraco. A expansão do salário real, já menor em 2013, será prejudicada. Os empresários estarão menos dispostos a contratar e será mais difícil compensar com aumentos a perda salarial causada pela inflação.
Para estimular a produção o governo poderá usar novas doses de benefícios fiscais, cortando tributos de setores selecionados. Nesse caso, insistirá numa linha de ação fracassada. Incentivos desse tipo custam caro ao governo e só produzem efeitos localizados. Nem a médio prazo o aumento da produção compensa os buracos abertos na arrecadação. Mas o governo parece ainda acreditar nas virtudes da política adotada nos últimos anos. Os fatos desmentem essa crença, mas a teimosia tem sido muito mais forte que os fatos.
Dois outros fatores ainda poderão impulsionar o crescimento e, mais que isso, criar condições para uma expansão sustentável. Em primeiro lugar, novas concessões para infraestrutura poderão movimentar o setor da construção e produzir bons efeitos a curto e a médio prazos, a começar pela multiplicação de empregos. Os ganhos de eficiência econômica serão benefícios mais duradouros e de maior alcance. O governo tem apostado nessas possibilidades, mas foi incapaz, até agora, de iniciar a execução do programa, anunciado festivamente há um ano.
Se quiser tratar seriamente do assunto, a administração federal deverá ser mais pragmático na elaboração dos editais, pôr de lado preconceitos e abandonar a ideia mal concebida do trem-bala, um projeto caríssimo e nada prioritário neste momento. Muitíssimo mais importante, nesta altura, é cuidar das condições do transporte de carga, pensar nos sistemas multimodais e dar um jeito nos aeroportos ineficientes e congestionados.
O reajuste cambial poderá ser outro fator positivo. Ninguém sabe qual será o novo patamar do câmbio, depois de superada a atual instabilidade, mas o produtor nacional certamente ganhará algum poder de competição com o real mais barato. Será um erro enorme, no entanto, fazer do câmbio o fator decisivo de competitividade, como já ocorreu em outras épocas. Quem entra nesse jogo é condenado ao fracasso, até porque o estímulo cambial tende a tornar-se um vício. Os brasileiros deveriam conhecer muito bem a desastrosa sequência formada pela depreciação cambial e pela inflação.
Não há competitividade real e duradoura sem muito investimento. No segundo trimestre, o valor investido em máquinas, equipamentos, construção civil e obras de infraestrutura foi 3,6% maior que o dos primeiros três meses do ano e 9% superior ao de igual período de 2012. Mas esse crescimento ocorreu sobre uma base muito baixa. No trimestre, a relação entre investimento e PIB ficou em 18,6%. Um ano antes estava em 17,9%. Será preciso um esforço muito grande e muito sério para se chegar a uns 24% ou 25%, nível já superado, até com folga, por vários latino-americanos.
Além de investir mais em ativos físicos, o País precisará cuidar muito mais seriamente da formação de pessoal e da inovação tecnológica. Sem isso seu potencial de crescimento continuará muito limitado. Esse potencial é hoje estimado na faixa de 2% a 3% por economistas de muito boa reputação. É difícil uma estimativa precisa, mas os limites brasileiros, como tem mostrado a experiência, são muito estreitos, especialmente no setor industrial. Diante da baixa capacidade de oferta, qualquer aumento importante da demanda pode resultar em mais inflação e em deterioração das contas externas - fenômenos muito visíveis hoje, mesmo com modesto crescimento econômico. A solução de problemas desse tipo vai muito além do marketing eleitoral.
EUA dizem que ataque à Síria visa manter sua 'credibilidade'
Secretário Kerry diz que um dos objetivos é mandar recado a países como Irã
Obama diz que ação não está decidida, mas seria limitada; para EUA, 1.429 morreram em ataque semana passada
JOANA CUNHA  - FSP
Em discurso no qual apresentou os argumentos para um ataque à Síria, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, deixou claro ontem que a ação militar que seu governo prepara para os próximos dias tem por objetivo preservar a "credibilidade americana" junto a regimes como Irã e Coreia do Norte.
"Isso importa além das fronteiras da Síria. É sobre se o Irã se sentirá confiante, na ausência de ação, para obter armas nucleares. É sobre Hizbullah, Coreia do Norte e todos os grupos terroristas ou ditadores que podem contemplar o uso de armas de destruição em massa", diz.
A declaração mostra que a motivação humanitária não é a única para o ataque contra o ditador Bashar al-Assad, após o uso de armas químicas na semana passada.
Momentos após a fala de Kerry, o presidente Barack Obama também se pronunciou. Disse que a decisão sobre a iminente intervenção ainda não foi tomada e reiterou que a ação planejada será limitada e não envolve tropas terrestres.
A ideia é um ataque a alvos militares de Assad, como punição pelo uso das armas químicas, mas sem necessariamente tomar parte na guerra civil do país.
Tanto Kerry (que foi mais incisivo) quanto Obama deixaram claro que o ataque com armas químicas não ficará sem resposta.
TRAUMA DO IRAQUE
Kerry tentou afastar a memória dos erros cometidos no Iraque, em 2003, quando a falsa existências de armas de destruição em massa foi usada como pretexto para o ataque. Ele se preocupou em enfatizar que o trabalho da equipe de inteligência da ONU foi minucioso.
"Não vamos repetir aquele momento", disse. Ele anunciou relatório divulgado pelo governo que trouxe, entre outros dados, o cálculo de 1.429 mortos no ataque do dia 21, incluindo 426 crianças.
Esforçando-se em fundamentar a posição, Kerry enumerou conclusões tomadas pela investigação, como o registro de que, antes do ataque, equipes do regime prepararam a área e se preveniram com máscaras.
O governo dos EUA também diz ter descoberto o horário e o local de onde partiram os ataques, em áreas sob controle do regime. Apenas destinos mantidos pela oposição teriam sido atingidos, sempre segundo a investigação americana.
Ele dedicou parte do discurso para dizer que não espera autorização da ONU para o ataque, por causa da obstrução russa.
Elencou países que poderão ajudar numa ação militar, como França, Austrália e Turquia --mas não citou o Reino Unido, cujo Parlamento anteontem rejeitou participação do país.


PETER FRAMPTON - BREAKING ALL THE RULES


Primeiro-ministro da Itália cede a Berlusconi para salvar coalizão italiana
Lucia Magi -El Pais
Alessandro Garofalo/Reuters
11.mai.2013 - Manifestantes protestam contra o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, em Brescia. Berlusconi disse neste sábado que manterá seu apoio a Enrico Letta, chefe do governo italiano11.mai.2013 - Manifestantes protestam contra o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, em Brescia. Berlusconi disse neste sábado que manterá seu apoio a Enrico Letta, chefe do governo italiano
O governo de Enrico Letta ganha tempo. Depois de meses de contas e negociações, conseguiu suprimir o imposto sobre a primeira residência introduzido pelo Executivo anterior, de Mario Monti. Tratava-se de um dos principais pontos de discórdia entre os dois partidos que apoiam a coalizão de governo: o Partido Democrático, de Letta (centro-esquerda), queria mudá-lo mas não suprimi-lo, enquanto o de centro-direita Povo da Liberdade (PDL), de Silvio Berlusconi, apostou forte em eliminá-lo.
Finalmente, Berlusconi ganhou a disputa de seu sócio. O governo volta a respirar. Tanto que no dia em que o Supremo deu a conhecer o texto integral da sentença contra o dono da Mediaset ninguém em seu partido ousou ameaçar o gabinete.
Letta e seu ministro da Economia, Fabrizio Saccomanni, encontraram os 4 bilhões de euros que o Estado deveria receber com o Imposto Municipal Único (IMU) em 2013.
Os dois prazos do imposto, que seriam cobrados em setembro e dezembro, serão eliminados, como detalhou Letta depois de uma reunião do governo. A partir do ano que vem, o IMU, cuja arrecadação iria financiar as prefeituras, será substituído pelo chamado "service tax", um imposto também municipal que integrará os serviços à cidadania, como o recolhimento de lixo. Essa nova taxa será incluída nos orçamentos de 2014, que na Itália têm o esperançoso nome de Lei de Estabilidade e que Letta pretende levar ao Parlamento em meados de outubro.
"Missão cumprida!", escreveu na rede social Twitter o ministro do Interior, Angelino Alfano; "a palavra IMU desaparecerá do vocabulário no futuro". O comentário do delfim de Berlusconi deixa claro quão essencial era para o Povo da Liberdade manter a palavra dada na campanha eleitoral de fevereiro: a supressão do IMU foi um de seus principais trunfos eleitorais. Mas o mais satisfeito foi o líder do PDL.
Mais uma vez, Berlusconi teve uma prova irrefutável de até que ponto incide e decide sobre a agenda do governo. E indica o quanto lhe convém manter-se no experimento um tanto estranho de uma coalizão que reúne os eternos rivais da direita e da esquerda.
"Letta respeitou os acordos com o PDL. Os efeitos positivos beneficiarão a todos os cidadãos", comentou Berlusconi.
Com a cessão de Letta, a contagem regressiva para a explosão do Palácio Chigi, a sede do governo, parece ter parado por enquanto. Mas resta resolver o nó da condenação de Berlusconi. O texto integral da sentença do caso Mediaset define preto no branco em um documento de 208 páginas que, segundo os juízes do Tribunal Supremo, o ex-primeiro-ministro foi o instigador do mecanismo ilegal de compra e venda de direitos televisivos que permitiu a suas empresas sonegar impostos. Por isso o condenaram, embora não administrasse mais de forma direta suas empresas, por ser chefe do governo. As consequências da decisão do
Supremo continuarão afetando a coalizão, embora Letta tenha afirmado na quinta-feira que não teme a possível expulsão de Berlusconi do Senado, depois de ter sido condenado a quatro anos de prisão em última instância. Na semana que vem o Senado deverá decidir se Berlusconi mantém ou não seu assento na Câmara.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

By Antonio Lucena
Acordo de Oslo, 20 anos depois: muito ainda a se fazer
Uri Savir - IHT
Em maio de 1993, eu fui o primeiro israelense a iniciar as negociações formais com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que resultaram nos acordos de paz de Oslo – que foi assinado posteriormente naquele mesmo ano de 1993 – e Oslo 2, assinado em 1995.
Com uma perspectiva de 20 anos, a importante conquista desse processo foi a de colocar um fim nos cenários maximalistas de uma grande Israel e de uma grande Palestina, que se estendessem "do mar até a Jordânia". Desde Oslo, ficou claro que, no final das contas, a terra teria que ser compartilhada por dois Estados.
Por outro lado, Oslo não conseguiu cumprir a expectativa de israelenses e palestinos de resolver seu belicoso e prolongado conflito, principalmente devido à eleição, em 1996, de um governo anti-Oslo em Israel, liderado por Benjamin Netanyahu, e também devido ao fracasso de Yasser Arafat em combater o terrorismo e o extremismo dos palestinos. No entanto, depois de 20 anos nós podemos e devemos avaliar as lições tiradas da experiência de Oslo para o atual processo de paz.
Os acordos de Oslo foram o máximo que os líderes de Israel e os palestinos foram capazes de alcançar sem ajuda nem intervenção externas. Até hoje, os líderes dos dois países são incapazes de implementar os difíceis compromissos que são necessários para resolver todas as questões relacionadas ao status permanente, pois se o fizessem eles não sobreviveriam politicamente.
Portanto, a conclusão é que sem a diplomacia ativa dos Estados Unidos – mediação, não facilitação – nenhum acordo poderá ser alcançado.
Inovadora, a enérgica diplomacia dos EUA, liderada pelo secretário de Estado John Kerry, tem de iniciar as negociações fazendo avançar as propostas de conciliação – inicialmente relacionadas às questões de fronteiras e assentamentos e, posteriormente, relacionadas às questões referentes à identidade de Jerusalém e dos refugiados.
A fronteira deve ser definida com base nas demarcações de 1967, com trocas de terras mutuamente acordadas e sincronizadas, e com Jerusalém como a capital compartilhada pelos dois países. Caso contrário, uma solução de dois estados não será viável. Kerry não deve subestimar as habilidades criativas de ambos os lados para perder tempo com discussões fúteis, e ele deve fazê-los se ater às questões essenciais.
Oslo também provou que, mesmo com a esmagadora autoridade relacionada à segurança que Israel reservou para si, o país ainda não foi capaz de impedir a violência e o terrorismo palestinos. Assim, para que as negociações de paz para sejam bem-sucedidas, um plano de segurança abrangente deve ser apresentado por generais norte-americanos, que levam os interesses referentes à segurança de Israel muito a sério.
A proposta deve incluir a proteção das fronteiras (incluindo o vale do rio Jordão), a coleta de informações de inteligência, medidas de antiterrorismo regional e a implantação de forças internacionais, como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Esse plano deve ser negociado não pelos políticos, mas pelos líderes militares de Israel, Palestina, Jordânia e Estados Unidos.
Paralelamente, dadas às diversas ameaças a Israel provenientes do volátil Oriente Médio, os Estados Unidos e Israel devem negociar um pacto de defesa que garanta a segurança e a vantagem militar qualitativa de Israel.
O futuro Estado palestino não será capaz de desenvolver uma economia próspera, moderna e com instituições públicas responsáveis e transparentes sozinho.
No processo de Oslo, foi criado um mecanismo de doadores internacionais para ajudar o setor público palestino, mas a economia palestina estava severamente sobrecarregada devido às medidas restritivas relacionadas à segurança de Israel.
Essa questão deve ser uma preocupação primordial no atual processo de paz. Profissionais de economia e do setor empresarial devem ser envolvidos. É importante que as empresas norte-americanas e europeias invistam no setor privado palestino, além de incentivarem o desenvolvimento do país na área da alta tecnologia, com foco voltado para a juventude palestina.
Um elemento muito importante para o futuro processo de paz deve ser o contexto regional – uma questão que não recebeu atenção suficiente no passado. Os palestinos devem ser encorajados e apoiados pela Liga Árabe nas concessões que terão de fazer.
Quanto a Israel, a resolução do conflito com os palestinos deve significar, essencialmente, uma nova relação com o mundo árabe. Israel e os Estados Unidos devem insistir para que, em troca das concessões territoriais israelenses em um acordo de status permanente, todos os países árabes tenham que estabelecer relações diplomáticas normais e plenas com o estado judeu. A iniciativa de paz saudita é uma boa base para isso.
A principal lição a ser aprendida a partir dos acordos de Oslo é que, para o processo de paz ser bem sucedido, ele deve ser inclusivo e não elitista. Ele deve representar uma paz feita pelo povo e para o povo. As sociedades árabe e judia precisam interagir e cooperar uma com a outra e buscar a reconciliação. As relações pessoa-a-pessoa devem ser incluídas na mesa de negociações como a sexta questão central do status permanente.
A grande maioria dos israelenses e dos palestinos é jovem. Nas redes sociais, os jovens tornaram-se os barômetros políticos das sociedades árabe e israelense e, portanto, eles devem ser colocados no centro do processo de construção da paz que emanará de um acordo formal.
A única coisa que Oslo e um futuro acordo terão em comum é que eles são a escolha moral correta a se fazer, com o objetivo de acabar com a ocupação israelense e com a rejeição árabe.
Uri Savir é diretor-geral do Centro Peres para a Paz em Tel Aviv-Jaffa. De 1993 a 1996 ele foi o negociador-chefe de Israel para os Acordos de Oslo. 
Tradutor: Cláudia Gonçalves
Até onde irá Obama?
O Estado de S.Paulo
A declaração de ontem do presidente François Hollande de que continua determinado a engajar as forças francesas na retaliação ao regime do ditador sírio Bashar al-Assad, pelo alegado uso de armas químicas contra moradores da periferia de Damasco não há de ter sido um grande consolo para o presidente americano, Barack Obama, convertido, depois de muito hesitar, em mentor da expedição punitiva. Na véspera, numa daquelas sessões históricas que costumam derrubar governos, o Parlamento britânico, por 285 votos a 272, negou ao primeiro-ministro David Cameron autorização para que a Grã-Bretanha - o maior aliado dos Estados Unidos no mundo - participe do corretivo a Assad. E ele se curvou democraticamente à recusa.
Assim como o seu colega francês socialista, o conservador Cameron havia deixado claro de início que a represália independeria do aval do Conselho de Segurança da ONU, algo impensável em razão do veto inabalável da Rússia, aliada à Síria desde os tempos soviéticos, e que forma, com o Irã, a última linha de defesa político-militar de Assad. Na Câmara dos Comuns, parcela ponderável do bloco majoritário conservador-liberal se rendeu à voz das ruas, firmemente contrária a seja lá o que se aparentasse à aventura iraquiana de 10 anos atrás, quando o então primeiro-ministro trabalhista Tony Blair tomou duas decisões imperdoáveis.
Primeiro, aderiu submissamente à "coalizão dos dispostos" alinhavada pelo governo Bush, na ausência de apoio da ONU, para erradicar o regime de Saddam Hussein e os seus propalados arsenais de destruição em massa. Segundo, como se veio a saber, deu carta branca à equipe para apimentar (to sex up foi a expressão usada) a documentação que comprovaria a existência dos estoques químicos e biológicos iraquianos, de modo a lustrá-la com um verniz de credibilidade. Os depósitos se revelaram uma peça de ficção, mas 178 militares britânicos foram mortos durante a ocupação do país.
Presidentes franceses não precisam de licença parlamentar para fazer a guerra. Se precisassem, talvez Hollande não a obtivesse. Na França, que se opôs à invasão do Iraque e por isso foi execrada pelos EUA, o sentimento anti-intervenção na Síria resulta de uma experiência mais recente. Em 2011, a maioria apoiou o empenho do presidente Nicolas Sarkozy pelo estabelecimento de uma zona de exclusão aérea na Líbia para impedir que o ditador Muamar Kadafi seguisse massacrando a população rebelada. Mas o clima de opinião azedou quando a missão da Otan, liderada por Paris e Londres, foi ao que interessava - mudar o regime de Trípoli.
Kadafi morreu e a Líbia se tornou um celeiro de terroristas. E os franceses, no que estão longe de ser os únicos, sabem que, na Síria, em matéria de barbárie, a maioria dos movimentos que combatem Assad rivalizam com o regime. Washington, evidentemente, não ignora essa realidade. Tampouco há de ignorar que a ausência britânica torna ainda mais duvidosa a legitimidade de seus planos. Mas Obama está pronto a ir à guerra - com ataques de curta duração de mísseis disparados do Mediterrâneo contra alvos militares pontuais - porque se tornou refém de sua retórica.
Não bastasse ter anunciado em 2011 que os EUA não apoiariam uma transição política na Síria negociada com um Assad ainda no poder (como se houvesse outra alternativa realista), advertiu há um ano que, se Damasco jogar gases letais contra redutos inimigos, terá cruzado uma "linha vermelha" e não poderia permanecer impune. O Irã também ficaria ciente de receber a mesma resposta caso leve para além de um indeterminado limite "vermelho" o seu programa atômico.
Desde a advertência, a ditadura teria usado armas químicas, em pequena escala, 14 vezes. Na semana passada, teria ido longe demais com o ataque de gás sarin que lhe é atribuído e que matou pelo menos 355 civis (1.429, segundo os EUA). Obama não poderia continuar olhando para o outro lado. Parece faltar-lhe, no entanto, além do consentimento da ONU, uma estratégia para o "dia seguinte".
Israel conclui programa de repatriação de etíopes
Bernat Armangue/AP

Judeus da Etiópia desembarcam no aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv, em Israel, na última quarta-feira
Judeus da Etiópia desembarcam no aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv, em Israel, na última quarta-feira
Cerca de 450 judeus da Etiópia desembarcaram em Israel nesta semana. Foram as últimas chegadas de um programa para relocar a comunidade para a Terra Santa. A campanha, que durou quase 30 anos, tem sido marcada por polêmicas.
Natan Sharansky descreveu-a como um "momento histórico comovente". O chefe da Agência Judaica para Israel --órgão encarregado de supervisionar a imigração-- acompanhou na quarta-feira (28) o último grupo de judeus etíopes em sua viagem à Terra Santa. Cerca de 450 "falashas", como são conhecidos, voaram para um aeroporto próximo a Tel Aviv em dois voos fretados.
Sessenta e cinco anos depois do estabelecimento do Estado-nação de Israel, o país concluiu seu programa de repatriação em massa de judeus etíopes. A chegada do grupo significa que os 3.000 anos de história da minoria religiosa está finalmente fechando um ciclo, disse Sharansky, de acordo com a agência de notícias alemã DPA.
Ao longo das últimas três décadas, cerca de 100 mil judeus foram repatriados do país do leste africano para Israel. O programa começou com três operações, chamadas "Moisés" (1984), "Joshua" (1985) e "Salomão" (1991-1992).
Após a conclusão dessas etapas, o programa entrou num impasse prolongado devido a uma briga política sobre se os Falash Mura --que foram obrigados a se converter ao cristianismo no século 18 e 19, mas mantiveram seus rituais judeus-- deveriam ter direito à cidadania israelense.

Discriminação generalizada

Apesar de alguns rabinos ultraortodoxos ainda se recusarem a reconhecer os integrantes do grupo como judeus, o governo israelense organizou um esforço adicional de repatriação --apelidado de "Operação Asa de Pomba"-- em novembro de 2010. Em outubro passado, o primeiro de um total de 93 voos fretados chegou ao país. Antes de deixar a Etiópia, os Falah Mura passaram vários anos em acampamentos transitórios na cidade de Gondar, ao norte, sendo preparados para a vida em Israel.
Cerca de 500 manifestantes se reuniram em frente à residência oficial do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na quarta-feira. Seu objetivo era expandir o programa de repatriação para incluir mais 5.000 etíopes que não haviam sido reconhecidos como judeus praticantes e, portanto, não se qualificaram para a Operação Asa de Pomba. O governo israelense criou uma regra segundo a qual os etíopes que desejam voltar para a Terra Santa só poderão fazer isso por meio de requerimentos individuais.
O grupo minoritário negro costuma enfrentar discriminação em Israel. Em 1996, o jornal diário Maariv do país revelou que o Magen David Adom --o serviço de doação de sangue do país-- estava destruindo todas as amostras de sangue fornecidas por judeus etíopes. No ano passado, a emissora israelense Canal 2 revelou que 120 proprietários na cidade de Kiryat Malakhi, ao sul, tinham concordado em não alugar nem vender suas casas e apartamentos para membros da minoria africana.
Muitos migrantes etíopes vivem em áreas de baixa renda e assentamentos ilegais. Organizações de direitos humanos acusaram o governo israelense de esterilizar à força os membros do grupo minoritário. As autoridades negaram as acusações.
Tradutor: Eloise De Vylder

OBAMA VAI ARRASTAR OS EUA AO CAOS DE UMA OUTRA GUERRA ?

Presidente da França hesita, mas decide apoiar Obama
Hollande vai enfrentar a oposição pública e política do país

Fernando Eichenberg - O Globo

PARIS — Contrariamente às intervenções militares na Líbia, em 2011, e no Mali, em janeiro deste ano, a participação da França numa eventual operação internacional na Síria não colhe unanimidade entre a opinião pública e a classe política no país. O próprio presidente François Hollande sentiu a ameaça dos riscos internos e, no intervalo de dois dias, alterou seu discurso: de uma incisiva defesa da ação militar contra o regime de Bashar al-Assad passou a ressaltar a opção por uma “solução política” para o impasse. Nesta sexta-feira, em uma conversa telefônica com o presidente Barack Obama, ele reiterou a determinação da França de reagir por meio da força.
Os argumentos, pronunciados em diferentes gradações, passam pela exigência de provas concretas de que os gases mortíferos foram lançados pelas Forças Armadas da Síria e o temor de que a ingerência ocidental possa aumentar as graves tensões já existentes no Oriente Médio. Também teme-se que a ofensiva possa incentivar atentados terroristas contra a França e represálias aos cerca de 900 militares do país posicionados no Líbano, na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil). A sessão da Assembleia Nacional convocada de forma extraordinária para debater o tema na quarta-feira promete escancarar as dissensões, mas formalmente o governo não necessita da aprovação parlamentar para deflagrar um ataque contra a Síria.
59% contra participação francesa
Entre a opinião pública, as sondagens revelam a divisão dos franceses. Segundo o Instituto CSA, 45% dos entrevistados se disseram favoráveis a uma intervenção militar da ONU na Síria, e 40% contra. Na amostra do instituto Ifop, os índices foram de 55% a favor e 45% contra. Mas, quando a questão especificava a participação da França, 59% dos entrevistados se opuseram, e 41% se manifestaram a favor.
Para o cientista político Bruno Cautrès, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po), até agora Hollande ainda controla internamente a situação. A questão síria, inclusive, desviou as atenções do anúncio da reforma das aposentadorias esta semana, mas o quadro poderá se inverter.
- Hollande avançou bastante rápido na direção de um ataque militar, e se for obrigado a recuar, certamente será criticado pela oposição por sua pressa e por sua falta de estatura presidencial - opinou.
Quanto à opinião pública, Cautrès acredita que ainda é muito presente a ideia de que Estados Unidos e Reino Unido cometeram um erro ao atacar o Iraque em 2003, baseado na mentira de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa:
- A opinião francesa é muito favorável à defesa da população síria e à questão do direito de ingerência humanitária, mas também muito marcada pela doutrina neogaulista de que a França não deve seguir os EUA em tudo.
PIB-surpresa
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
A evolução do PIB no segundo trimestre deste ano foi surpreendente. Já se sabia que seria mais expressiva do que a dos trimestres anteriores, mas não que fosse tanta. O salto foi de 1,5%, quando o que estava nas projeções dos analistas não era muito mais do que 0,9%.
Pode-se objetar que esse crescimento está prejudicado pela base achatada de comparação, que foi o baixo desempenho do PIB nos trimestres anteriores. Mas, ainda assim, foi uma recuperação forte.
O que já se sabe é que o terceiro trimestre deste ano deverá apresentar um comportamento oposto a este. Deverá voltar a acusar um resultado medíocre ou até negativo. É um desempenho aos solavancos, que reflete as atuais distorções da economia. É por isso que o desempenho líquido do PIB de 2013 em relação ao do ano anterior não deverá ser melhor do que o projetado, coisa aí provavelmente algo em torno dos 2,2% (veja o Confira).
As Contas Nacionais podem ser vistas a partir de dois ângulos: o da oferta (produção) e o da demanda (consumo). Na área da oferta, já se esperava que a agropecuária apresentasse bom resultado. No entanto, desta vez, também foi o grande destaque: crescimento no trimestre (sobre o anterior) de 3,9%, substancialmente maior do que o crescimento do PIB (1,5%). É, no momento, o setor mais ativo da economia, embora tenha peso limitado no total produzido, pouco mais de 5%.
O resultado da indústria de transformação não foi exuberante, como se sabe, no entanto se notabilizou por ter ido bem melhor do que estava nas estimativas, avanço de 1,7%. Desta vez, o setor de serviços, o que mais pesa na economia (68,5%), teve um comportamento mais modesto, de apenas 0,8% sobre o trimestre anterior.
Do lado da demanda, são três os destaques, nem todos positivos. O consumo das famílias, por exemplo, repetiu no segundo trimestre os sinais de esgotamento manifestados no trimestre anterior: cresceu apenas 0,3%. Está sendo castigado pela inflação que corrói o poder aquisitivo e pelo excessivo endividamento que, por sua vez, é consequência da maior agressividade das operações de crédito pelos bancos. Mesmo assim, o alto nível da ocupação e os bons reajustes salariais garantem alta participação do consumo das famílias no PIB (62%).
Pelo terceiro trimestre consecutivo, o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) vem apresentando desempenho melhor do que o PIB. Apesar disso, sua participação é baixa (apenas 18,6%) a ponto de não fazer muita diferença. As exportações, essas sim, apontaram avanço relevante na renda: 6,9%.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem motivos para festejar, mas seu diagnóstico, de que o desempenho da economia já é bem melhor em consequência dos ajustes decididos pelo governo, é, no mínimo, precipitado. Fosse isso mesmo, os próximos trimestres também estariam fadados ao sucesso. Tanto os analistas como o governo já sabem que não é bem assim.
Ainda há mais a comentar sobre o tema. Fica para amanhã.
Marretando as contas
Estado de S.Paulo
A marreta será de novo o grande instrumento da contabilidade federal, em 2014, a julgar pela proposta de lei orçamentária apresentada na quinta-feira pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Míriam Belchior. Os resultados finais serão mais uma vez, como neste ano e nos anos anteriores, ajustados a pancadas para se ajustar à promessa de seriedade no manejo das contas públicas.
O governo definiu para o próximo ano um superávit primário de R$ 167,4 bilhões, soma equivalente a 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado. Mas o resultado efetivo poderá ficar em apenas R$ 109,4 bilhões e tudo estará muito certo e dentro dos conformes, segundo os números divulgados e comentados em entrevista coletiva em Brasília.
O ministro Mantega ainda ensaiou uma ressalva, com a promessa de tentar o melhor resultado possível, se a economia mundial for mais favorável, mas a experiência e o bom senso proíbem levar a sério esse comentário. O cálculo do resultado primário inclui receitas e despesas normais da administração e desconsidera os custos da dívida pública. O superávit primário é normalmente usado, no Brasil, para o pagamento de juros devidos pelo Tesouro.
O roteiro para encolher a meta primária como se tudo estivesse normal é resumido num quadrinho muito simples e um tanto incompleto. Para produzir o resultado maior, o governo central deve contribuir com uma economia de R$ 116,1 bilhões (2,2% do PIB) e os governos estaduais e municipais, juntamente com suas empresas, devem participar com R$ 51,3 bilhões (1% do PIB). Nesse esquema, a contribuição das empresas federais é nula. Mas o projeto já prevê para o governo central um abatimento, por conta de investimentos, de R$ 58 bilhões, metade do valor fixado originalmente.
Com isso, a parcela federal fica reduzida a 1,1% do PIB. Refeita a soma - R$ 58,1 bilhões mais R$ 51,3 bilhões - chega-se ao compromisso final, R$ 109,4 bilhões, 2,1% do PIB.
A marretagem fica ainda mais notável quando se examinam alguns detalhes incluídos em outros quadros. Está prevista para o próximo ano uma receita de R$ 21 bilhões (0,5% do PIB), correspondente a dividendos pagos ao Tesouro por estatais. Isso representará 36% do resultado primário de R$ 58,1 bilhões programado, depois do desconto, para o poder central. Esses pagamentos poderão ser pouco menores que os estimados para este ano (R$ 22 bilhões), mas seu peso no resultado final continuará muito importante. Na prática, espera-se, portanto, uma ajuda considerável de empresas controladas pela União.
Dividendos já entraram muitas vezes na composição do saldo primário, mas nunca foram importantes como têm sido para o atual governo. Royalties e participações especiais também facilitarão o fechamento das contas, como em 2013.
Além de reduzir a meta, o governo tem recorrido cada vez mais a essas receitas para acertar seu balanço. Isso o dispensa de um controle efetivo do custeio, de uma programação eficiente de investimentos e de um esforço para aperfeiçoar a administração.
Além disso, é imprudência usar receitas extraordinárias, mais instáveis que as de impostos e contribuições, para custear gastos permanentes.
Como sinais de boa administração, o ministro mencionou a redução, proporcionalmente ao PIB, dos gastos com juros e a estabilidade da folha de pessoal. Mas os juros voltaram a subir, por causa da inflação, e a dívida bruta continua crescendo. Depois, a expansão da folha superou a inflação durante vários anos, sem melhora correspondente dos serviços públicos.
Para montar a proposta de orçamento, o governo tomou como hipóteses uma inflação de 5% e um crescimento de 4% para o PIB. Mas uma expansão de 4% ainda é um objetivo ambicioso, segundo Mantega, diante de um quadro internacional ainda complicado.
Ele insiste em atribuir a estagnação brasileira a fatores externos. Mas o Brasil poderia exibir um dinamismo bem maior, como outros emergentes, se o governo errasse menos. Este é um dado reconhecido no País e no exterior.
Inspetores da ONU deixam a Síria e EUA preparam ataque
Governo russo afirma que ameaça americana de usar a força para punir governo Assad pelo uso de armas químicas é ‘inaceitável’

Imagem de arquivo mostra um jato F-14 da Marinha americana pousando em um porta-aviões: Síria espera um ataque a qualquer momento
Foto: Rex Nelson / AFP/Rex Nelson
Imagem de arquivo mostra um jato F-14 da Marinha americana pousando em um porta-aviões: Síria espera um ataque a qualquer momento - Rex Nelson / AFP/Rex Nelson
BEIRUTE e WASHINGTON – Os inspetores da ONU que foram à Síria investigar o ataque químico que matou centenas de pessoas nos arredores de Damasco na semana passada deixaram o país neste sábado, aumentando a expectativa quanto a um iminente ataque dos EUA ao país. Enquanto isso, o governo russo afirmou que a ameaça americana de usar a força para punir o presidente sírio Bashar al-Assad pelo suposto uso de armas químicas contra a própria população é “inaceitável”.
Na sexta-feira, porém, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, apresentou um relatório da Inteligência americana que segundo a Casa Branca não deixa dúvidas de que o ataque químico na Síria foi perpetrado pelas tropas de Assad, deixando 1.429 mortos, incluindo 426 crianças, no dia 21 agosto. Damasco reagiu e afirmou que o relatório era “totalmente fabricado”. Segundo o relatório americano, imagens de satélite mostram que os foguetes foram lançados 90 minutos antes dos primeiros registros nas mídias sociais. Os dados apresentados por Kerry indicaram ainda que o regime de Assad usou um mix de armas químicas, incluindo gás sarin.
- Este ataque é uma ameaça para o mundo e afeta aos interesses dos Estados Unidos e de nossos aliados. Não podemos aceitar um mundo onde mulheres e crianças são vítimas de gás. Se não houver uma ação militar contra este ataque estaremos enviando sinais de que as normas de segurança internacionais não têm sentido - disse o presidente dos EUA, Barack Obama, logo após a divulgação do relatório, num claro sinal de que o país está disposto a responder ao ataque químico, mesmo que seja sem o apoio de aliados.
Mas enquanto o Pentágono faz as preparações finais para um ataque, a Rússia elevou o tom das críticas à intenção americana de agir sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Para o presidente russo Vladmir Putin, não faria sentido para o governo sírio usar armas químicas numa guerra que está vencendo.
- É por isso que estou convencido que o ataque químico não foi nada mais que uma provocação daqueles que querem arrastar outros países para o conflito sírio e ganhar o apoio de membros poderosos da arena internacional, especialmente dos EUA – disse Putin.
Mais cedo, Alexander Lukashevich, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, classificou como “inaceitáveis” as ameaças dos EUA contra a Síria. Segundo Obama, seu país, que dispõe de pelo menos cinco navios equipados com mísseis de cruzeiro na região, planeja uma resposta “limitada” ao ataque químico que não envolverá tropas em terra.
- Qualquer uso unilateral da força sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU, não interessa o quanto “limitado”, será uma clara violação das leis internacionais, minando as chances de uma solução política e diplomática pata o conflito na Síria e levando a uma nova rodada de confrontos e vítimas - comentou Lukashevich.
Diante da iminência de um ataque, a Síria também prepara suas defesas. Segundo relatos de opositores de Assad, o presidente está movendo tropas, equipamentos e caminhões de documentos para áreas civis de forma a dificultar o trabalho das forças americanas.
- Presumimos que Assad está fazendo isso para proteger seus ativos estratégicos de ataques com mísseis de cruzeiro dos EUA - disse Dan Layman, do Grupo de Suporte à Síria, que apoia os opositores de Assad.
Com o Reino Unido ainda assombrado pelo Iraque, uma dura lição para Cameron
Stephen Castle e Steven Erlanger - NYT
23.jan.2013 - Matt Dunham/AP
O primeiro-ministro britânico, David Cameron
O primeiro-ministro britânico, David Cameron
Humilhado pelos parlamentares a respeito da Síria, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron parece destinado a ter um papel menor, enfraquecido tanto em casa quanto no exterior por um desastre autoimposto, que também acentuou a relutância de seu país cansado de guerra em se envolver em outro projeto americano no Oriente Médio.
Nenhum primeiro-ministro britânico na memória pediu e não conseguiu apoio de seus parlamentares para uma ação militar, e a derrota de Cameron significa que os Estados Unidos terão que intervir sem seu principal aliado em segurança e inteligência. Em uma reversão da situação no Iraque, pode ser a França, a vizinha e rival do Reino Unido, que dará a cobertura política e militar europeia ao presidente Barack Obama.
No rastro da derrota parlamentar chocante, o principal amigo político de Cameron, o ministro das Finanças, George Osborne, reconheceu que a votação provocaria um período de "autoanálise nacional" sobre o papel do Reino Unido no mundo. Mas ele também alertou contra exagerar o impacto da votação. "Eu espero que isso não se transforme em um momento de darmos as costas a todos os problemas do mundo", disse ele.
O crescente isolamento do Reino Unido também aparece na esfera europeia. Após mais de uma década de envolvimento em conflitos --e sofrendo com uma economia fraca--, a população britânica está cada vez mais cética a respeito de sua participação na União Europeia, cuja moeda única está começando a se recuperar de uma experiência de quase morte.
Alguns dos políticos conservadores mais críticos à União Europeia também parecem ter pouca fé no outro pilar da política externa britânica do pós-guerra --sua "relação especial" com os Estados Unidos.
O líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, colocou dessa forma à "BBC": "Eu acho que ser aliado dos Estados Unidos e ter um relacionamento especial com os Estados Unidos não pode se resumir a fazer o que o presidente americano deseja que você faça".
Chamando a relutância em fazer uso de força militar no exterior de "uma mudança bem profunda", Malcolm Chalmers, diretor de pesquisa do Instituto Real de Serviços Unidos, em Londres, que é especializado em políticas de defesa e segurança, disse: "Tem a sensação da mudança pós-Vietnã nos Estados Unidos".
Chalmers viu uma "desconexão entre a elite política e o público", acrescentando: "Ela está presente na intervenção militar, certamente está presente na questão da Europa e da imigração. Há uma sensação entre o público britânico de que devemos cuidar de nós mesmos em vez dos outros".
De fato, os eventos que se desdobraram durante a semana foram moldados por um erro de cálculo político prosaico, com os líderes de todos os três principais partidos políticos julgando de modo equivocado o sentimento popular e perdendo o controle de seus partidos. Cameron provavelmente foi encorajado pelo fato de os legisladores britânicos terem apoiado a intervenção militar na Líbia em 2011, e achou que tinha fechado um acordo com Miliband, por exemplo, que descobriu que parte de sua bancada não aceitaria. No final, tanto Cameron quanto o vice-primeiro-ministro Nick Clegg, líder dos liberais democratas, se viram incapazes de manter seus parlamentares na linha, mesmo em uma moção basicamente inútil que não autorizava nada.
Mesmo se, daqui vários meses, os eventos recentes revelarem ter salvo o país de uma intervenção militar imprudente, isso servirá de pouco conforto para Cameron. Nessas circunstâncias, seus adversários políticos poderão colocar ainda mais em dúvida o juízo do primeiro-ministro e alegar que eles --e não ele-- merecem crédito por evitar outro erro na política externa.
A experiência no Iraque paira sobre o debate. Com a discussão pública sobre os pareceres da inteligência, o trabalho dos inspetores de armas da ONU e o caso legal a favor da ação militar, poucos não viram paralelos com a invasão ao Iraque. Aquela guerra arruinou a gestão do ex-primeiro-ministro pelo Partido Trabalhista, Tony Blair, que foi ridicularizado como poodle de Washington e acusado de deturpar a inteligência sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
Mesmo antes da ação militar em 2003, a perspectiva de invadir o Iraque era impopular no Reino Unido, com até 1 milhão de manifestantes marchando em oposição a certa altura. Miliband ainda não foi eleito ao Parlamento e o fato de nunca ter votado a favor da ação militar foi um elemento importante em sua campanha para se tornar líder do partido.
Cameron também estava bem ciente do legado do Iraque. Sua decisão de convocar o Parlamento em meio às férias, e de publicar o argumento legal a favor da ação e o parecer da inteligência, visavam demonstrar transparência e ressaltar a diferença entre ele e Blair.
Inicialmente, Cameron queria uma autorização para ataques militares limitados. Após discussões com Miliband, ele foi forçado a recuar, terminando com uma moção branda que prometia uma segunda votação após a conclusão do trabalho dos inspetores da ONU em Damasco.
Para fúria do gabinete de Cameron, Miliband não cumpriu sua parte diante da hostilidade dos parlamentares trabalhistas. Muitos deles recordavam de terem sido persuadidos contra sua vontade a apoiar Blair no Iraque e, agora na oposição, não estavam dispostos a prestar um favor semelhante a Cameron.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

COMO UMA MULHER DESTRUIU A ARGENTINA

Cristina e Buenos Aires têm disputa por estátua
Presidente da Argentina quer que Colombo dê lugar a heroína boliviana
Troca é alvo de protesto por parte de ONG e de associações italianas; La Paz pagou US$ 1 mi pelo novo monumento
LÍGIA MESQUITA - FSP
Cristóvão Colombo repousa seu corpanzil de seis metros de altura e 60 toneladas sobre uma estrutura de madeira. Há exatos 63 dias, foi ao chão e perdeu a vista que tinha, desde 1921, do rio da Prata. Agora, só olha para o céu de Buenos Aires.
Foi no dia 29 de junho passado que um guindaste entrou na Praça Colón, nos fundos da Casa Rosada, e içou a estátua de mármore de carrara, presente da comunidade italiana à cidade.
O navegador italiano (1451-1506) perdeu seu lugar porque a presidente Cristina Kirchner decidiu que a homenageada deveria ser Juana Azurduy (1780-1862).
A boliviana, condecorada postumamente em 2009 como general do Exército da Argentina, é uma das figuras que participaram da guerra pela emancipação do Vice-reinado do rio da Prata --o início do surgimento do Estado argentino.
Para a confecção da nova estátua, em bronze, o governo boliviano doou US$ 1 milhão. A obra está sendo feita pelo argentino Andrés Zerneri e deve ficar pronta até o final deste ano.
Cristina quer que a imagem apareça ao fundo de seus discursos na Casa Rosada. Para ter o novo cenário, resolveu enviar o Colombo a Mar del Plata, cidade que já possui uma estátua do genovês.
O desalojamento está embargado até 12 de setembro graças a uma liminar concedida à ONG Basta de Demolir. Também entraram na Justiça para impedir a remoção da obra a Prefeitura de Buenos Aires e associações italianas. Anteontem, a Câmara Municipal aprovou lei que declara o monumento um bem da cidade. Dessa maneira, a prefeitura espera que Colombo permaneça onde está.
Caso a Justiça dê uma sentença pró-Casa Rosada, a Basta de Demolir avisa que levará o caso à Corte Suprema.
"Não dá para remover um monumento que pertence à cidade por causa de um capricho da presidente", diz à Folha a diretora da ONG, María del Carmen Usandivaras.
Para Marco Basti, diretor do jornal "Tribuna Italiana" e membro da associação Dante Alighieri, as estátuas deveriam ficar juntas. "A presidente precisa se lembrar que uma sociedade se constrói com a soma de todos, não tirando alguns de cena".
A desculpa do governo de tirar Colombo do pedestal para começar sua restauração é "absurda", diz María del Carmen Magaz, coordenadora da associação Salvemos as Estátuas.
"Qualquer especialista sabe que você causa mais danos a um monumento quando precisa desmontá-lo."
Para que o guindaste não entre em ação novamente, um carro da prefeitura vigia o local, de fora da praça. Isso porque o espaço municipal foi cercado com grades pela Casa Rosada, em 2007.
"Pela lei, a praça só poderia ser fechada para eventos ou quando alguma manifestação representasse perigo", diz o subsecretário de Uso do Espaço Público, Patricio Di Stefano. "A Casa Rosada não poderia nem cercar a praça nem tirar a estátua. Fazer isso pela força não é correto."

BRASIL: UM PAÍS SERVIÇAL

Dilma fala a Evo em 'repúdio completo' por fuga de senador
Pouco antes do encontro na cúpula da Unasul, presidente da Bolívia chama Roger Pinto Molina de 'delinquente'
Chanceler brasileiro diz que permanência do político no país depende de decisão do Conselho Nacional de Refugiados
FABIANO MAISONNAVE  - FSP
Em encontro com o colega boliviano Evo Morales na cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), no Suriname, a presidente Dilma Rousseff manifestou seu "repúdio completo" à fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina com a ajuda de um diplomata brasileiro, mas disse que sua permanência cabe ao Conare (Conselho Nacional de Refugiados).
Já Morales disse que seu país enviará informações sobre os supostos crimes cometidos por Pinto Molina, incluindo o de corrupção, mas classificou o assunto como da esfera da Justiça boliviana e não pediu sua extradição.
O teor da conversa foi relatado pelo novo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, que substituiu Antonio Patriota nesta semana justamente por causa da crise gerada pela fuga de Pinto.
Segundo Figueiredo, Dilma explicou a Morales que Pinto Molin solicitou refúgio ao Brasil, cuja análise está a cargo do Conare. Não há prazo para uma decisão
Em entrevista pouco antes de se encontrar com Dilma, Morales chamou Pinto de "delinquente" e disse: "Que devolvam delinquentes que têm problemas de corrupção", declarou.
Questionado sobre eventuais mudanças no Itamaraty com a sua chegada, Figueiredo disse que "a política externa é a do governo Dilma Rousseff".
Ele afirmou que "há várias coisas sob exame": "O caso da retirada do senador de uma embaixada brasileira e a sua condução sem garantias ao território brasileiro é um fato grave e que está sendo apurado."

MERCOSUL

Por iniciativa de Dilma, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Paraguai, Horacio Cartes, também se reuniram ontem para discutir a situação do Mercosul.
Em rápida entrevista com jornalistas, Dilma disse que não iria revelar o teor da conversa, que durou meia hora. "Mas, na minha avaliação, foi uma reunião muito positiva, muito construtiva"
Venezuela e Paraguai estão com as relações estremecidas desde o ano passado, quando o então presidente Fernando Lugo, um aliado de Caracas, foi deposto. Os demais membros do Mercosul na época suspenderam Assunção do bloco e, em seguida, promoveram o ingresso da Venezuela, cuja entrada estava bloqueada por causa da falta de aprovação do Senado paraguaio.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Município que trocar profissional será excluído do Mais Médicos, diz Ministério da Saúde
DANIEL CARVALHO - FSP
Os municípios que substituírem médicos pagos pelas prefeituras por profissionais pagos pelo Mais Médicos podem ser excluídos do programa, segundo o Ministério da Saúde.
"Os municípios que insistirem nessa questão [de substituição] nós vamos visitar e, se observada essa prática, os médicos serão remanejados e esses municípios serão excluídos do programa", afirmou o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales.
A Folha mostrou nesta sexta-feira (30) que em ao menos quatro Estados há prefeituras que já estão substituindo ou pretendem substituir seus profissionais pelos contratados pelo governo federal.
As cidades estão no Amazonas (Coari, Lábrea e Anamã), Bahia (Sapeaçu, Jeremoabo, Nova Soure e Santa Bárbara), Ceará (Barbalha, Cascavel, Canindé) e Pernambuco (Camaragibe).
Segundo as prefeituras, essa substituição significa economia, já que a bolsa de R$ 10 mil do Mais Médicos é totalmente custeada pela União.
"A substituição pura e simples de um profissional pelo outro, até a título de redução de despesas, como está na matéria da Folha de S. Paulo é inadmissível", disse Sales ao acompanhar a visita de médicos cubanos a uma unidade de saúde no Recife.
"Vamos ter uma atuação muito rigorosa. Está no edital, está no termo de compromisso que não é possível a substituição", disse o representante do ministério.
Durante uma audiência na Câmara, no dia 14, o ministro Alexandre Padilha afirmou que as prefeituras seriam monitoradas para evitar as substituições.
"Esse programa é Mais Médicos, não troca de médico", afirmou à época.
Editoria de Arte/Folhapress
NOTA
Hoje, em nota, o ministério disse que os municípios estão "proibidos" de trocar profissionais.
A seguir, a nota do Ministério da Saúde: 
O Ministério da Saúde esclarece que os municípios que se inscreveram no Mais Médicos são proibidos, por força do termo de adesão e compromisso e da portaria interministerial, de demitir profissionais já contratados para substituí-los por participantes do programa. Os municípios que descumprirem esta regra serão excluídos do programa, com remanejamento dos médicos participantes para outras cidades, e serão submetidos a auditoria do Ministério da Saúde.
Para assegurar o cumprimento desta regra, o Ministério da Saúde estabeleceu um conjunto de filtros preventivos:
1) A prefeitura é obrigada a manter a quantidade de médicos na Atenção Básica que já tinha antes da adesão ao programa, sem ocupar estes postos com profissionais remunerados pelo Ministério da Saúde. Ou seja, os profissionais do Mais Médicos só podem ser incluídos para expandir a capacidade de atendimento naquela cidade, formando novas equipes de Atenção Básica ou preenchendo vagas naquelas em que faltava médico. O controle desta trava é feito online no sistema do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), impedindo que o médico participante do projeto seja direcionado a postos que estavam ocupados antes da adesão do município.
2) Todos os médicos que já estavam cadastrados na Atenção Básica de um determinado município foram impedidos de se inscrever no programa para atuar nesta mesma localidade, o que impede a migração de profissionais para a bolsa do Mais Médicos dentro de uma mesma cidade.
Enquanto participarem do Mais Médicos, os municípios só poderão desligar médicos da Atenção Básica em situações excepcionais justificadas à coordenação nacional do Programa Mais Médicos, como, por exemplo, descumprimento comprovado de carga horária e/ou outra falha ética ou profissional do médico.