A vida real
João Bosco Leal
De
um amigo real, recebi um e-mail com um vídeo onde o personagem central
dizia possuir 422 amigos com quem se comunicava diariamente, mas que era
solitário e que destes, nenhum o conhecia realmente.
Apesar
da presença física de seu parceiro sentado na mesma mesa, de estarem
diante um do outro, o que se vê atualmente entre amigos, namorados ou
casais, são pessoas que não se falam, mas através de seus smartphones,
se comunicam com outros que muitas vezes estão a milhares de quilômetros
de distância.
Na
realidade, essas "redes sociais", de "social" nada possuem, pois
provocam um afastamento real das pessoas que estão próximas. O mesmo
ocorre com os jogos eletrônicos atualmente existentes nos atuais
aparelhos celulares ou tablets.
As
crianças passam o dia manuseando jogos eletrônicos e o que menos fazem é
falar com seus amigos, pais ou irmãos. Elas não sabem o que é brincar
de esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, carrinhos de rolimã, soltar
papagaio, jogar bolinha de gude e tantas outras brincadeiras das
gerações anteriores.
Essas
sim eram brincadeiras "sociais", pois faziam a integração entre as
crianças e, ao mesmo tempo, despertavam seu interesse para a disputa e o
uso da imaginação, que futuramente seriam utilizadas diariamente em
diversos setores de suas vidas, além de ainda as exercitarem
fisicamente.
Os
jovens atuais "namoram" através de mensagens eletrônicas, pelos
Messenger, Whatsapp ou Skype existentes, enquanto os das gerações
passadas sentiam os corações acelerarem quando se aproximavam ou viam
passar a pessoa por quem se interessavam.
As
paqueras e namoros eram iniciados com os olhos nos olhos, depois vinham
os primeiros toques, delicados, de uma mão na outra, para só então
ocorrer o primeiro beijo. Atualmente ocorrem algumas trocas de mensagens
eletrônicas, no primeiro encontro já "ficam" e no dia seguinte cada um
já "está em outra".
As
pessoas estão com limitações cada vez maiores de seus espaços físicos e
se comunicando apenas com nomes nos monitores, sem tomar conhecimento
do que ocorre no campo físico, à sua volta. Ninguém mais conhece o seu
vizinho, ainda que resida no mesmo andar do prédio, na porta da frente, e
poucos são os que sabem o nome do zelador de seu prédio.
Dentro
da própria casa, os pais que saíram cedo para trabalhar só retornam à
noite, nada sabem sobre as ocorrências diárias de seus filhos que
ficaram aos cuidados de uma pessoa que certamente teve uma educação
totalmente distinta do que pretendem dar a seus filhos, mas que, na
prática, é quem realmente os educaria se impusesse horários para estudo,
limites no uso de aparelhos eletrônicos e exigisse que se alimentassem
corretamente, o que certamente não ocorre.
Alguns
anos depois estes pais encaminham seus filhos a psicólogos,
nutricionistas e fazem terapia de casal, tentando entender como seu
relacionamento com eles parece com o de dois estranhos, porque se
alimentam tão mal, estudam muito pouco e passam o dia alienados do mundo
real, dedicando seu tempo quase que exclusivamente aos jogos e
comunicações virtuais.
Talvez
para compensar sua ausência física, esses pais, quando presentes,
também não impõem limites, regras, horários ou exigem uma alimentação
saudável de seus filhos. Crianças ainda muito pequenas não se exercitam,
estudam quando querem, só se alimentam de comidas industrializadas,
frituras, refrigerantes e assim, logo estão obesas, com problemas de
saúde e até com diabetes.
Ao
ligarmos nossos computadores, abrimos as portas do mundo virtual para a
diversão, o conhecimento e a pesquisa, mas nos distanciamos do real.
João Bosco Leal é jornalista, escritor e empresário
www.joaoboscoleal.com.br
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