quinta-feira, 9 de abril de 2015

Orquestras na França e em outros países sofrem com a falta de financiamento
Clarisse Fabre com Stéphane Lauer e Philippe Bernard - Le Monde
Arno Burgi/EFE
Coro da orquestra filarmônica de Dresden, Alemanha
Coro da orquestra filarmônica de Dresden, Alemanha
Em turnê por Viena, Colônia e Berlim, no final de março, os músicos da Orquestra Filarmônica da Radio France tiveram sua performance elogiada pela imprensa alemã. Jean-Pierre Odasso, trompetista e representante não sindicalizado dos músicos da "Philhar", chamou a atenção para como essas "críticas ditirâmbicas" contrastavam com o clima na França, em plena greve da Radio France e em um momento em que o Tribunal de Contas recomenda a fusão de duas orquestras, a "Philhar" e a Orquestra Nacional da França (ONF). Essas turnês no exterior também permitiram ver que as turbulências não são exclusividade da França.
Qualquer que seja seu modo de financiamento, público ou privado, as orquestras sinfônicas vêm atravessando momentos muito difíceis, sofrendo uma queda no apoio público e redução nas receitas do mecenato. Philippe Fanjas, presidente da Associação Francesa das Orquestras, que reúne 27 orquestras – ou seja, todo o território, exceto da Ópera de Paris e da Ópera de Lyon -, está preocupado com a "morte lenta" que ameaça as orquestras. Ele defende a ideia de que as orquestras sejam "serviços públicos", assim como a saúde e a educação.
Na França, onde as orquestras são financiadas em sua maior parte por verba pública, o apoio do Estado "não sofre reajuste desde 2004", ressalta Philippe Fanjas. Algumas coletividades locais passaram a ajudar, e outras deixaram. As orquestras da Radio France são financiadas pelo orçamento da rádio pública, que depende de royalties. "Cada orquestra recebe uma dezena de milhões de euros", afirma com cautela a direção da Radio France, nestes tempos em que qualquer número já causa comoção.
O modelo de financiamento público francês não é isolado, diz Philippe Fanjas: "Ele também é adotado pelo norte da Europa, pela Suécia, Noruega e Dinamarca, e em particular pela Finlândia, que conta com 16 orquestras permanentes para 5,5 milhões de habitantes. Mas também a Alemanha, a Itália, a Espanha e também o Leste Europeu." Nesse cenário, ele afirma que o Reino Unido aparece como exceção, ainda que o quadro deva ser relativizado, considerando o peso das orquestras da BBC.

A exceção britânica

As cinco orquestras da BBC (duas em Londres – BBC Symphony Orchestra e BBC Concert Orchestra -, uma em Manchester, Cardiff e Glasgow) de fato recebem um financiamento público através de royalties e seus músicos são pagos pela "Beeb" [apelido da BBC]. Eles representam 0,6% do orçamento geral do grupo BBC (5 bilhões de libras, ou R$22 bilhões). Um relatório de auditoria de 2013 exigia uma redução de seu orçamento. Desse ponto de vista, o futuro depende em parte do resultado das eleições legislativas do dia 7 de maio, já que enquanto o Partido Trabalhista (Labour) costuma defender o financiamento público, os Tories defendem uma fórmula de assinatura paga pelos concertos transmitidos pela TV a cabo.
Quanto às outras orquestras sinfônicas (dez, sendo quatro em Londres), elas têm um status de associação privada mas recebem subsídios públicos através dos Art Councils. Em média, metade do orçamento delas provém de suas próprias receitas (bilheteria, gravações etc.), cerca de 35% por subsídio público (Estado e coletividades locais) e 15% de mecenato e doações, que vêm aumentando.
Entre 2010 e 2013, os subsídios públicos diminuíram 14% e, segundo a Associação das Orquestras Britânicas (ABO), as orquestras terão perdido 30% de suas receitas públicas durante o período de 2008-2017. "Nós não lamentamos o fim de nenhuma orquestra, mas ninguém garante que continuará assim", explica Mark Pemberton, diretor da ABO. "Não houve nenhuma demissão. Estamos tentando melhorar a produtividade dos músicos pedindo-lhes por mais horas de trabalho sem aumentar seus salários."
Nos Estados Unidos, as orquestras vivem de acordo com a flutuação da conjuntura econômica. Existem cerca de 350 a 400 orquestras profissionais, segundo a League of American Orchestras. Grande parte das receitas vem da venda de ingressos, que com muito custo cobrem as despesas da estrutura. Então as orquestras às vezes recorrem a subsídios públicos, como o National Endowment for the Arts, ou a doações particulares.
Segundo a associação Giving USA, que faz um levantamento de todas as doações, as contribuições no domínio das artes e cultura atingiram US$ 13,7 bilhões em seu auge em 2007, caindo 8,2% nos dois anos seguintes. De fato, nos últimos anos muitas orquestras passaram por grandes dificuldades. A Philadelphia Orchestra, por exemplo, foi obrigada entrar sob proteção da lei de falências.

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